Áudios angustiantes indicam que psicólogo arremessava gatos na parede
Áudios que revelam sofrimento dos gatos, cadáveres de felinos e depoimentos de vizinhos são novos indícios contra o psicólogo Pablo Stuart
Mateus classifica Pablo como um cara “quieto demais”. “Chegamos ao condomínio em maio de 2024, e ele já morava lá. Nós não conversávamos. Ele nunca pareceu agressivo, era até quieto demais. Raramente recebia visitas. Sempre pedia comida por delivery, parecia cozinhar muito pouco. Sempre saía de casa com grandes sacos de lixo pretos.”
Mais de 20 gatos
Para além do relato do vizinho de Pablo, protetoras que doaram gatos ao suspeito contam que, após o Metrópoles revelar o caso, pelo menos outras cinco cuidadoras surgiram para relatar que também entregaram bichinhos para o autor. É possível que o número de gatos adotados, maltratados e mortos por Pablo passe de 20.
“Ao menos cinco protetoras nos procuraram nos últimos dias para contar a mesma história de que ele adotou gatos tigrados e cinza”, conta uma doadora, que solicita condição de anonimato.
As cuidadoras eram enganadas pela lábia de Pablo, que cumpria todos os requisitos para a adoção de cada gato. Em todos os casos, ele tinha de responder a um questionário de 16 perguntas informando dados pessoais e profissionais e dizendo os motivos para querer adotar os felinos.
“Além disso, pedimos vídeos e fotos da residência e fazemos acompanhamento pós-adoção. Ele era muito convincente em todas as questões”, explica a protetora.
Veja imagens de alguns dos gatos adotados por ele:
16 indiciamentos
O titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra os Animais (DRCA), Jônatas Silva, indiciou Pablo pela morte de 16 gatos. Agora, ele deve responder pelo crime de maus-tratos contra cada felino individualmente.
O delegado também já pediu a prisão preventiva do suspeito. Ainda não há manifestação do Ministério Público do DF e dos Territórios (MPDFT) quanto ao pedido.
A Delegacia de Repressão aos Crimes Contra os Animais (DRCA/PCDF) instaurou, em 13 de março, inquérito policial contra Pablo Stuart Fernandes Carvalho.
A DRCA havia apurado que, desde o ano passado, o psicólogo procurava protetores de animais pedindo para adotar gatos de pelagem cinza e rajada. Um mês após uma adoção, ele inventava histórias para as doadoras afirmando que os bichos haviam sumido e pedia outro animal.
Ele começou a adotar em setembro de 2024. De lá para cá, foram diversos gatos adotados, todos da mesma pelagem.
Pablo usava discurso emotivo para continuar adotando os bichinhos sem que as cuidadoras desconfiassem.
Após a divulgação inicial do caso, a maior dúvida era o que havia acontecido com os gatos. Agora, com áudios e depoimentos de testemunhas, a principal suspeita é que Pablo tenha matado ao menos 15 felinos.
Ainda não se sabe se o rapaz de 30 anos atuava com alguém ou sozinho. Também não é possível afirmar por que Pablo preferia gatos cinzas e rajados.
A defesa de Pablo nega todas as acusações.
Justiça pelos tigrados
Cerca de 50 pessoas, entre doadoras de animais e simpatizantes com a causa, fizeram uma manifestação na frente do MPDFT, nessa sexta-feira (21/3), pedindo justiça pela morte dos gatos.
Bradando “Justiça para maus-tratos”, o grupo estendeu faixas por cerca de três horas a fim de conscientizar a população e pedir a celeridade do MP no caso — após o pedido de prisão preventiva por parte da PCDF, o Ministério precisa acatar e levar o caso à Justiça.
A diretora do Departamento de Proteção, Defesa e Direitos Animais do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Vanessa Negrini, também esteve presente.
CRP cancelado desde 2023
Psicólogo desde 2017, Pablo Stuart cancelou o próprio registro profissional no Conselho Regional de Psicologia do DF (CRP-DF), em 2023. O órgão reiterou ao Metrópoles que, diante dos fatos, apura providências cabíveis para “reforçar a provocação às autoridades competentes” e demonstra solidariedade com aqueles que ficaram profundamente consternados com a situação narrada pelas reportagens.
“Este Conselho repudia qualquer ato de violência e crueldade e coloca-se à disposição para colaborar com as investigações”, frisa o CRP-DF.
Matéria Publicada pelo Portal Metrópoles 22/03/2025