“SOU ANTI!”

NÃO ME PERGUNTE, PORQUE AMO OS ANIMAIS? SE FINGIR NÃO SABER OS MOTIVOS, ME PERGUNTE PORQUE ODEIO OS HUMANOS! - SOU ANTI, SOU UM SER RACIONAL PENSANTE E LIVRE, POR ISSO SOU ANTI, SOU ANTI SISTEMA DOMINANTE, SOU ANTI ESTADO E SUAS LEIS SOU ANTI INSTITUIÇÕES OFICIAIS, SOU ANTI PATRIOTISMO E NACIONALISMO, POIS SÓ SERVEM PARA EXALTAR UMA PSEUDA PÁTRIA SUA, SOU ANTI POLÍTICA PARTIDÁRIA E O CÂNCER QUE ESSA REPRESENTA, SOU ANTI O VOTO POLÍTICO PARTIDÁRIO E A FARSA DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA QUE ELE “VENDE” SOU ANTI A FARSA QUE É A TAL DA DEMOCRACIA ENQUANTO REGIME, PELAS FALÁCIAS QUE “VENDE” E POR REPRESENTAR UM GOVERNO. SOU ANTI CRENÇAS DE FÉ RELIGIOSAS SEU DEUS ASSIM COMO AS MÍSTICAS, SOU ANTI CONCEITOS FALSOS DE VALORES, SOU ANTI SOCIEDADE E SUAS AMARRAS OU “CABRESTOS” MORAL, QUASE SEMPRE FALSO MORALISTA, SOU ANTI POLÍCIA E TUDO QUE ESSA REPRESENTA, OPRESSÃO, COVARDIA, DISCRIMINAÇÃO, PERSEGUIÇÃO ETC, SOU TOTALMENTE ANTI MODISMOS. SOU ANTI! POIS SOU UM SER RACIONAL MAS PENSANTE!!! - A FARSA DA VIDA - "FARSA, A VIDA É UMA GRANDE FARSA, MAS QUEM DISSE QUE NÃO É, COMO NEGAR! SIMPLES SENDO MAIS UM FARSANTE."

sábado, 8 de novembro de 2025

"O ócio, o tempo livre e a não submissão a falsos conceitos de valor moral e material como o trabalho, é um direito inalienável e uma resistência a escravização do tempo e da mão-de-obra!"

"A Revolução Industrial aperfeiçoou a escravidão humana e criou a escravidão material!"

"O Trabalho como uma suposta liberdade é uma grande falácia."


"POR QUE SERÁ QUE OS RICOS NÃO TRABALHAM SÓ OS POBRES E A CLASSE MÉDIA? SERÁ SÓ PORQUE ELES NÃO PRECISAM, OU PORQUE A SOCIEDADE FALSO-MORALISTA PRECISA DE UMA SUPREMACIA DE CLASSE DISFARÇADA EM UM EXEMPLO ESTEREOTIPADO DE VALOR MORAL!"


Enquanto o capitalismo é uma escravidão moral, o socialismo é uma escravidão imoral, mas os dois é uma forma de escravidão

 

A luta por tempo livre e o mito do capitalismo justo

Mesmo com o extraordinário avanço tecnológico, nunca se trabalhou tanto – reflexo direto do desmonte de direitos e chantagens patronais que abriram portas para jornadas primitivas. A luta contra a escala 6×1 é apenas a ponta do problema de uma batalha mais ampla

OutrasPalavras

Trabalho é Precariado

Por Leonardo Lani de Abreu

Publicado 06/11/2025 às 16:52 - Atualizado 06/11/2025 às 17:12

A liberdade humana é inconcebível sem o tempo, a ponto de se poder afirmar que, na ausência do tempo livre, isto é, o período temporal em que uma pessoa não está obrigada a trabalhar ou a realizar outras atividades impostas, inexiste também a liberdade real. Quem não é dotado de tempo livre tem pouca margem para pensar, criar, estudar, descansar ou participar da vida política. O resultado dessa privação é o surgimento em larga escala de indivíduos autocentrados, intelectualmente embotados, esgotados, ou, numa palavra, infelizes. Esta é a razão por que Marx (2011) identificou a riqueza genuína como o tempo livre dispensado ao alcance da plenitude do desenvolvimento humano, em vez do acúmulo de bens materiais.


Em direção contrária, as jornadas longas e intensas, o empobrecimento do tempo livre e o rebaixamento da vida à função econômica pura e simples, na quadra histórica atual, patenteiam a subordinação do tempo às lógicas do trabalho, da produtividade irrestrita e do lucro. Este sequestro do tempo é, ao fim e ao cabo, uma diminuição da liberdade. Apesar de formalmente “livres”, as pessoas ou não dispõem de tempo para exercerem sua liberdade, ou, quando arranjam algum tempo livre, estão fatigadas e/ou sem recursos para aproveitá-lo. Resta saber por que um regime tão adverso à emancipação humana apresenta tanta resiliência, sumarizada na doutrina TINA, acrônimo de “There Is No Alternative”, verdadeiro mantra de Margareth Thatcher (1925-2013), ex-primeira-ministra do Reino Unido.


Mesmo com o extraordinário avanço tecnológico, nunca se trabalhou tanto – reflexo direto do desmonte de direitos e chantagens patronais que abriram portas para jornadas primitivas. A luta contra a escala 6×1 é apenas a ponta do problema de uma batalha mais ampla


Este texto, originalmente intitulado A promessa incumprida de mais tempo livre ao trabalhador foi escrito por Leonardo Lani de Abreu e faz parte de um dossiê organizado pelo Cesit/Unicamp, Site DMT, Remir, GEPT/UNB e FCE/UFRGS e publicado em parceria com o Outras Palavras. Leia aqui a série completa


A liberdade humana é inconcebível sem o tempo, a ponto de se poder afirmar que, na ausência do tempo livre, isto é, o período temporal em que uma pessoa não está obrigada a trabalhar ou a realizar outras atividades impostas, inexiste também a liberdade real. Quem não é dotado de tempo livre tem pouca margem para pensar, criar, estudar, descansar ou participar da vida política. O resultado dessa privação é o surgimento em larga escala de indivíduos autocentrados, intelectualmente embotados, esgotados, ou, numa palavra, infelizes. Esta é a razão por que Marx (2011) identificou a riqueza genuína como o tempo livre dispensado ao alcance da plenitude do desenvolvimento humano, em vez do acúmulo de bens materiais.


Em direção contrária, as jornadas longas e intensas, o empobrecimento do tempo livre e o rebaixamento da vida à função econômica pura e simples, na quadra histórica atual, patenteiam a subordinação do tempo às lógicas do trabalho, da produtividade irrestrita e do lucro. Este sequestro do tempo é, ao fim e ao cabo, uma diminuição da liberdade. Apesar de formalmente “livres”, as pessoas ou não dispõem de tempo para exercerem sua liberdade, ou, quando arranjam algum tempo livre, estão fatigadas e/ou sem recursos para aproveitá-lo. Resta saber por que um regime tão adverso à emancipação humana apresenta tanta resiliência, sumarizada na doutrina TINA, acrônimo de “There Is No Alternative”, verdadeiro mantra de Margareth Thatcher (1925-2013), ex-primeira-ministra do Reino Unido.


A resposta mais óbvia é a de que a sobrevida do sistema capitalista advém da dominação da classe trabalhadora. E não poderia ser de outra maneira, pois a economia burguesa, ao privar a esmagadora maioria dos cidadãos dos meios básicos para uma existência digna e frutífera, só consegue subsistir mediante o emprego da violência, nas suas mais diversas modalidades. Parafraseando o lema do brasão chileno, trata-se de uma coercitividade estabelecida “pela razão ou pela força”. O presente artigo se propõe a analisar essas duas estratégias de perpetuação do capital, no intuito de desnaturalizá-las.


Num primeiro momento, será feito um delineamento geral de como o capitalismo, a despeito de se apresentar como única opção produtiva para a humanidade, está fundado e se sustenta na arbitrariedade, o que põe em relevo sua ilegitimidade. Em seguida, ocorrerá o escrutínio das formas mais encobertas da dominação capitalista, em especial, os posicionamentos de que o sistema é permeado por uma racionalidade otimizadora de recursos e de que o sacrifício despendido pelos trabalhadores é temporário e será mitigado numa fase mais próspera – a velha história de que é preciso esperar o bolo crescer para depois dividi-lo. Por último, serão salientadas as potencialidades anticapitalistas do enfrentamento à escala 6X1. A hipótese de trabalho é a de que a luta pelo fim dessa escala pode ser precursora de uma contestação mais ampla à apropriação do tempo dos trabalhadores. A metodologia utilizada é qualitativa, exploratória e bibliográfica e a abordagem é dedutiva.


A propensão capitalista à força bruta

Por mais que pareça espontânea e inevitável, em decorrência de um processo de naturalização do social encampado de forma ininterrupta pelos seus apologistas, a ordem econômica capitalista notabiliza-se, desde a sua gênese, pela recorrência à força. É o que mostra Marx (2025) na análise sobre a “acumulação primitiva”, processo instaurado entre os Séculos XV e XVIII que lançou as bases para o surgimento do modo de produção capitalista, com a expulsão massiva de camponeses de suas terras e residências, a dissolução de formas comunitárias de reprodução existencial e a pauperização compulsória desses sujeitos, a fim de integrá-los ao mercado laboral, em que são obrigados a vender sua força de trabalho, quase que invariavelmente em condições que lhes são desvantajosas.


A noção de “acumulação primitiva” fulmina a visão idílica de que a ordem econômica atual assenta-se na industriosidade de seus pioneiros, que teriam adquirido, pelo trabalho duro e pela poupança, a supremacia sobre uma malta pródiga e imprevidente, compelida a trabalhar por um salário: “Nada mais falso: sem a destruição violenta e sanguinária das sociedades baseadas na fusão entre o trabalho e os meios de produção o capital não poderia desenvolver uma dinâmica própria, encetada pela sua autovalorização” (Mariutti, 2019, p. 14). Uma transformação dessa magnitude contou com uma maciça intervenção estatal, consubstanciada em medidas como a criação de legislações coercitivas, os cercamentos de terras e a repressão aos estilos de existência independentes da lógica mercantil, todas elas voltadas à vinculação da reprodução social aos ditames de um mercado autorregulado (Polanyi, 2000).


A mercantilização de todas as instâncias da vida social, ínsita ao neoliberalismo, guarda relação estreita com a mercantilização do trabalho. A primeira só pode ocorrer sob a condição de “[…] que os trabalhadores tenham sido expropriados em massa dos meios de produção e que, com isso, sejam constrangidos a vender a sua força de trabalho para um pequeno número de detentores de tais meios” (Kashiura Júnior, 2014, p. 184-185). Pode-se alegar que, na ordem atual das coisas, os trabalhadores são, tanto quanto os demais atores econômicos, livres, e podem escolher vender ou não sua força de trabalho, o que representaria uma sensível evolução em comparação com os modos de produção anteriores. A falácia desse argumento salta aos olhos, pois a sobrevivência dos que são desprovidos dos meios de produção está atrelada à comercialização de seu labor.


O trabalho é a categoria antropológica fundamental, por representar “[…] a atividade pela qual o metabolismo entre o homem e a natureza é mediado” (Marx e Engels, 1988, p. 40, Tradução Nossa). Não obstante tamanha importância, desenvolve-se, no capitalismo, sob a égide da alienação, de forma que o trabalhador não é livre nem para decidir como produzir, nem para se apropriar dos frutos da produção. A ínfima parcela que lhe cabe daquilo que produz serve estritamente para garantir a permanência de sua própria exploração.


Não é nenhum exagero encarar tal jugo como uma metamorfose da escravidão, com o agravante de que, no contexto atual, a vida humana se torna cada vez mais irrelevante, face à primazia do trabalho morto sobre o trabalho vivo, que joga na desocupação imensos contingentes de trabalhadores, enquanto que na escravidão a manutenção da vida do escravo era imperativa, “[…] pois ele representava uma reserva de capital e a depredação da sua saúde e capacidade de trabalhar implicava em prejuízos diretos ao seu dono” (Bertolotti, 2011, p. 78). Mutatis mutandis, pode-se aplicar o mesmo raciocínio no cotejo entre o capitalismo e o feudalismo.


Mesmo com o extraordinário avanço tecnológico, nunca se trabalhou tanto – reflexo direto do desmonte de direitos e chantagens patronais que abriram portas para jornadas primitivas. A luta contra a escala 6×1 é apenas a ponta do problema de uma batalha mais ampla


A liberdade humana é inconcebível sem o tempo, a ponto de se poder afirmar que, na ausência do tempo livre, isto é, o período temporal em que uma pessoa não está obrigada a trabalhar ou a realizar outras atividades impostas, inexiste também a liberdade real. Quem não é dotado de tempo livre tem pouca margem para pensar, criar, estudar, descansar ou participar da vida política. O resultado dessa privação é o surgimento em larga escala de indivíduos autocentrados, intelectualmente embotados, esgotados, ou, numa palavra, infelizes. Esta é a razão por que Marx (2011) identificou a riqueza genuína como o tempo livre dispensado ao alcance da plenitude do desenvolvimento humano, em vez do acúmulo de bens materiais.


Em direção contrária, as jornadas longas e intensas, o empobrecimento do tempo livre e o rebaixamento da vida à função econômica pura e simples, na quadra histórica atual, patenteiam a subordinação do tempo às lógicas do trabalho, da produtividade irrestrita e do lucro. Este sequestro do tempo é, ao fim e ao cabo, uma diminuição da liberdade. Apesar de formalmente “livres”, as pessoas ou não dispõem de tempo para exercerem sua liberdade, ou, quando arranjam algum tempo livre, estão fatigadas e/ou sem recursos para aproveitá-lo. Resta saber por que um regime tão adverso à emancipação humana apresenta tanta resiliência, sumarizada na doutrina TINA, acrônimo de “There Is No Alternative”, verdadeiro mantra de Margareth Thatcher (1925-2013), ex-primeira-ministra do Reino Unido.


A resposta mais óbvia é a de que a sobrevida do sistema capitalista advém da dominação da classe trabalhadora. E não poderia ser de outra maneira, pois a economia burguesa, ao privar a esmagadora maioria dos cidadãos dos meios básicos para uma existência digna e frutífera, só consegue subsistir mediante o emprego da violência, nas suas mais diversas modalidades. Parafraseando o lema do brasão chileno, trata-se de uma coercitividade estabelecida “pela razão ou pela força”. O presente artigo se propõe a analisar essas duas estratégias de perpetuação do capital, no intuito de desnaturalizá-las.


Num primeiro momento, será feito um delineamento geral de como o capitalismo, a despeito de se apresentar como única opção produtiva para a humanidade, está fundado e se sustenta na arbitrariedade, o que põe em relevo sua ilegitimidade. Em seguida, ocorrerá o escrutínio das formas mais encobertas da dominação capitalista, em especial, os posicionamentos de que o sistema é permeado por uma racionalidade otimizadora de recursos e de que o sacrifício despendido pelos trabalhadores é temporário e será mitigado numa fase mais próspera – a velha história de que é preciso esperar o bolo crescer para depois dividi-lo. Por último, serão salientadas as potencialidades anticapitalistas do enfrentamento à escala 6X1. A hipótese de trabalho é a de que a luta pelo fim dessa escala pode ser precursora de uma contestação mais ampla à apropriação do tempo dos trabalhadores. A metodologia utilizada é qualitativa, exploratória e bibliográfica e a abordagem é dedutiva.


A propensão capitalista à força bruta

Por mais que pareça espontânea e inevitável, em decorrência de um processo de naturalização do social encampado de forma ininterrupta pelos seus apologistas, a ordem econômica capitalista notabiliza-se, desde a sua gênese, pela recorrência à força. É o que mostra Marx (2025) na análise sobre a “acumulação primitiva”, processo instaurado entre os Séculos XV e XVIII que lançou as bases para o surgimento do modo de produção capitalista, com a expulsão massiva de camponeses de suas terras e residências, a dissolução de formas comunitárias de reprodução existencial e a pauperização compulsória desses sujeitos, a fim de integrá-los ao mercado laboral, em que são obrigados a vender sua força de trabalho, quase que invariavelmente em condições que lhes são desvantajosas.


A noção de “acumulação primitiva” fulmina a visão idílica de que a ordem econômica atual assenta-se na industriosidade de seus pioneiros, que teriam adquirido, pelo trabalho duro e pela poupança, a supremacia sobre uma malta pródiga e imprevidente, compelida a trabalhar por um salário: “Nada mais falso: sem a destruição violenta e sanguinária das sociedades baseadas na fusão entre o trabalho e os meios de produção o capital não poderia desenvolver uma dinâmica própria, encetada pela sua autovalorização” (Mariutti, 2019, p. 14). Uma transformação dessa magnitude contou com uma maciça intervenção estatal, consubstanciada em medidas como a criação de legislações coercitivas, os cercamentos de terras e a repressão aos estilos de existência independentes da lógica mercantil, todas elas voltadas à vinculação da reprodução social aos ditames de um mercado autorregulado (Polanyi, 2000).


A mercantilização de todas as instâncias da vida social, ínsita ao neoliberalismo, guarda relação estreita com a mercantilização do trabalho. A primeira só pode ocorrer sob a condição de “[…] que os trabalhadores tenham sido expropriados em massa dos meios de produção e que, com isso, sejam constrangidos a vender a sua força de trabalho para um pequeno número de detentores de tais meios” (Kashiura Júnior, 2014, p. 184-185). Pode-se alegar que, na ordem atual das coisas, os trabalhadores são, tanto quanto os demais atores econômicos, livres, e podem escolher vender ou não sua força de trabalho, o que representaria uma sensível evolução em comparação com os modos de produção anteriores. A falácia desse argumento salta aos olhos, pois a sobrevivência dos que são desprovidos dos meios de produção está atrelada à comercialização de seu labor.


O trabalho é a categoria antropológica fundamental, por representar “[…] a atividade pela qual o metabolismo entre o homem e a natureza é mediado” (Marx e Engels, 1988, p. 40, Tradução Nossa). Não obstante tamanha importância, desenvolve-se, no capitalismo, sob a égide da alienação, de forma que o trabalhador não é livre nem para decidir como produzir, nem para se apropriar dos frutos da produção. A ínfima parcela que lhe cabe daquilo que produz serve estritamente para garantir a permanência de sua própria exploração.


Não é nenhum exagero encarar tal jugo como uma metamorfose da escravidão, com o agravante de que, no contexto atual, a vida humana se torna cada vez mais irrelevante, face à primazia do trabalho morto sobre o trabalho vivo, que joga na desocupação imensos contingentes de trabalhadores, enquanto que na escravidão a manutenção da vida do escravo era imperativa, “[…] pois ele representava uma reserva de capital e a depredação da sua saúde e capacidade de trabalhar implicava em prejuízos diretos ao seu dono” (Bertolotti, 2011, p. 78). Mutatis mutandis, pode-se aplicar o mesmo raciocínio no cotejo entre o capitalismo e o feudalismo.



Ademais, as crises sistêmicas do capital têm como saldo o encolhimento paulatino no número de empregos formais, e à massa crescente de desempregados resta tentar a sorte num setor informal cada vez mais saturado ou soçobrar na miséria. É escusado dizer que violência aberta no capitalismo não é um fenômeno historicamente datado, mas uma característica inerente ao modus operandi burguês, que se torna mais visível nos momentos de turbulência econômica. Daí a criminalização da pobreza, vislumbrada tanto no encarceramento em massa, com o qual o Estado tenta lidar com um excedente de mão de obra cada vez mais amplo (De Giorgi, 2006), quanto na perseguição sistemática aos movimentos sociais, que tendem a engrossar suas fileiras em contraponto às políticas de austeridade fiscal e à subtração de direitos sociais.


O mito do capitalismo justo

À primeira vista, a violência física como meio de imposição de vontade de alguém a outrem é a forma incontestável de exercício do poder. Isto se dá porque a parte menos poderosa da contenda é obrigada a se submeter aos desígnios da mais poderosa, sob pena de suportar prejuízos irreparáveis ou até mesmo perecer. É assim que, historicamente, firmou-se a ascendência dos donos dos meios de produção sobre os trabalhadores. Conquanto a violência imediata exerça inegável capacidade dissuasória sobre a intenção de um cidadão rebelar-se contra o sistema instituído, ela é usada em regra com parcimônia. A utilização ordinária da violência aberta desnudaria a artificialidade do status quo, o que poderia desembocar na multiplicação das insurreições.


Se é verdade que “[…] onde há poder há resistência” (Foucault, 2009, p. 105), também é verdadeiro que, se se quiser diminuir a resistência desencadeada pelo exercício do poder, é necessário escamoteá-lo. Um dos artifícios mais comuns para o encobrimento da violência capitalista é a apresentação do sistema como uma consequência inescapável da lógica econômica. Neste prisma, a iniciativa privada é entendida como sinônimo de eficiência e propalada como a melhor opção para gerir recursos escassos. Basta um breve olhar para a crise financeira de 2008, oriunda de práticas financeiras duvidosas e da concessão irrefreada de crédito, para demonstrar a fragilidade do discurso da eficiência do mercado.


Em apoio à ideia de racionalidade do capitalismo, a economia neoclássica, que tem grande influência no âmbito acadêmico, propõe modelos matemáticos baseados em agentes racionais que buscam otimizar o processo de tomada de decisão, de forma a obter o melhor resultado possível, expediente que obnubila o caráter complexo dos sistemas sociais (Mallin, 2009). Outra requisição de racionalidade do capitalismo é o direito moderno, que estaria baseado em princípios supostamente universais. Entretanto, o sujeito de direito, ficção jurídica por excelência do Estado moderno, é uma mistificação inventada para caucionar a equiparação entre o capitalista, portador de poder econômico, técnico e jurídico, e o trabalhador, provido tão somente de sua capacidade laborativa. Para defender uma improvável paridade entre polos tão assimétricos, os teóricos modernos lançaram mão da ideia de igualdade (Kashiura Júnior, 2014).


A desaceleração econômica no fim dos Trinta Anos Gloriosos – 1945 a 1975 –, somada à crise do petróleo na década de 1970, pôs a pique o Estado de Bem-Estar Social e o pacto tácito de colaboração firmado entre a classe trabalhadora e os proprietários dos meios de produção. As providências para solucionar a crise – inflação, endividamento estatal e endividamento privado – revelaram-se de pouco fôlego e o Estado, dividido entre atender os direitos dos rentistas e os dos cidadãos, optou resolutantemente pelos primeiros, numa confirmação de seu pendor pró-capital. Isto ajuda a explicar a erosão da democracia em todo o mundo, sinalizada na ascensão de governantes autoritários (Streeck, 2018). Antes útil à reprodução do capital, agora a democracia é um empecilho, a ser descartado sem nenhum pejo.


A persuasão capitalista exibe inúmeras facetas. O avanço tecnológico, desde o Século XIX, levantou a expectativa, sustentada por uma ampla gama de discursos, de dilatação do tempo livre dos trabalhadores. Este triunfalismo se entrevê, dentre outras obras, no ensaio “Possibilidades Econômicas para os Nossos Netos” (Keynes, [1930] 1984), em que o economista britânico vaticina que o desenvolvimento tecnológico e o crescimento da produtividade permitiriam uma jornada semanal de trabalho de 15 horas no espaço de cem anos, bem como uma vida mais devotada ao ócio e à contemplação.


Às vésperas de se completar o prazo estabelecido por Keynes, o que se testemunha é a intensificação do trabalho – maior produção em um tempo idêntico –, a precarização e fragmentação das jornadas – como no trabalho intermitente e por aplicativos –, a extensão do trabalho ao tempo livre – os meios telemáticos e informatizados de comando, controle e supervisão têm deixado os trabalhadores em um sobreaviso ininterrupto – e a colonização do tempo livre – o tempo que o trabalhador tem disponível para si, ao invés de ser utilizado para sua emancipação, tem sido dedicado ao consumo, a ser sustentado pelo dispêndio de mais trabalho.


Diante deste cenário, a luta contra a escala de trabalho 6X1, em que o funcionário trabalha seis dias e goza de um dia de folga, é emblemática. A jornada 6X1 submete os que a ela estão sujeitos a uma miríade de problemas: maior incidência de síndrome de burnout, distúrbios do sono, estresse crônico, dificuldades em equilibrar a vida profissional e pessoal e maior risco de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho. Todavia, tem o mérito de desvelar a absoluta precedência capitalista do lucro sobre as pessoas.


Assim, iniciativas como o Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que advoga a redução da jornada laboral para incrementar a qualidade de vida dos trabalhadores, e a Proposta de Emenda à Constituição – PEC 8/25 (Brasil, 2025), que visa reduzir a jornada para 36 horas semanais, com a adoção de uma escala 4X3 (quatro dias de trabalho seguidos por três de descanso), são bem-vindas, por oportunizarem uma maior politização da classe obreira, uma reflexão mais alentada sobre a índole espoliativa do capitalismo e, espera-se, o acréscimo de tempo livre de que os trabalhadores andam tão necessitados.


O potencial de insurgência da luta contra a escala 6X1

Esperar racionalidade do capitalismo, além da mera adequação instrumental entre meios e fins, em que os meios são os trabalhadores e a natureza e os fins são a proteção da propriedade privada e a maximização dos lucros, é esperar em vão. Se os trabalhadores pretendem desfrutar de uma vida que não se restrinja ao atendimento das demandas do capital, vão ter de se organizarem coletivamente a si mesmos. Esta recomendação é daquelas mais fáceis de dizer do que de fazer, ainda mais numa conjuntura de refluxo do movimento sindical, acarretado por fatores diversos, tais como:


[…] subcontratações e terceirizações, precarização dos vínculos de trabalho, internacionalização das redes produtivas, redução da classe operária, mudança na forma de organização das empresas, aumento do sindicalismo de classe média, com outra lógica de ação, e principalmente o desemprego (Venturini, 2000, p. 17)


Adiciona-se aos aspectos mencionados o asfixiamento financeiro das entidades sindicais, promovido pela Reforma Trabalhista de 2017, com o fim da contribuição sindical obrigatória. Não por azar, um dos setores da legislação que sofreram as modificações mais substantivas com referida reestruturação foi o da jornada de trabalho, vide o incremento nas formas de acordo individual, especialmente em relação ao banco de horas, jornada parcial e regime 12×36, e a criação da jornada intermitente (Brasil, 2017). Em desacordo com o que era de se supor, a reação da classe trabalhadora à supressão de seus direitos foi apática, o que ajudou a pavimentar a vitória, nas eleições de 2018, de Jair Bolsonaro, que aprofundou a fragilização das salvaguardas juslaborais.


A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, no pleito de 2022, suscitou a esperança de revogação das alterações na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) implementadas pela gestão Temer. Porém, a pretensão do governo Lula de uma contrarreforma trabalhista (Konchinski, 2023) esbarrou numa correlação de forças amplamente desfavorável no Congresso Nacional. Na realidade, Lula passou boa parte de seu terceiro mandato quase que sitiado pela direita, seja ela extrema, tradicional ou fisiológica. O objetivo dessa oposição cerrada é, se não derrotar o mandatário em 2026, ao menos enfraquecê-lo.


Quando o desânimo parecia tomar conta do campo progressista, eis que surge um sopro de renovação: em setembro de 2023, o influenciador Rick (Ricardo) Azevedo, então balconista em farmácia e hoje vereador pelo PSOL-RJ, publicou um vídeo no TikTok atacando a escala 6X1. Este foi o estopim para uma série de ações, como o Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que organizou petições online, mobilizações nas redes e articulações com parlamentares, e a defesa, pela deputada Érika Hilton (PSOL-SP), da PEC que propõe jornada de 36 horas semanais e modelo 4×3, sem redução salarial, que angariou as 171 assinaturas exigidas para tramitar em novembro de 2024 (Tavares, 2025).


Esta movimentação é auspiciosa, no mínimo, por dois aspectos. Em primeiro lugar, possui um viés universalista, apto a congregar uma esquerda cada vez mais dividida por reivindicações de cariz identitário e a atrair a simpatia de amplos segmentos da população. Afinal, a necessidade de tempo livre é comum a todos os que são obrigados a fazer de seu tempo uma mercadoria. Em segundo lugar, coloca em evidência a dupla natureza do trabalho explicitada por Marx (2025), que estabeleceu a distinção entre valor de uso – utilidade de um bem, ou seja, seu pendor de satisfazer uma necessidade humana – e valor de troca – quanto uma mercadoria pode ser permutada por outra no mercado, valor dependente do montante de trabalho incorporado em sua produção.


O valor de uso provém do trabalho concreto, essencialmente qualitativo e direcionado à criação de algo útil. Já o valor de troca emana do trabalho abstrato, que é aquele considerado em termos quantitativos, independentemente das especificidades da atividade feita, e mensurado pelo tempo de duração. O trabalho concreto está para a autodeterminação assim como o trabalho abstrato está para a alienação (Holloway, 2013). Isto porque, enquanto o primeiro corresponde a uma “atividade vital consciente” (Marx, 2004, p. 84), por intermédio da qual o ser humano satisfaz suas múltiplas necessidades, o segundo está destinado precipuamente ao enriquecimento dos titulares dos meios de produção. Logo, a adoção, pelos ativistas contra a escala 6X1, do mote “vida além do trabalho”, indica um movimento de recusa à transformação dos sujeitos em objetos, típica do trabalho abstrato, o que abre fissuras na sociabilidade capitalista, que podem ser alargadas por lutas subsequentes.


Considerações finais

Pelo exposto, demonstra-se que o capitalismo não é neutro. Quem acreditou que ele resolvesse por si mesmo suas contradições, teve as aspirações baldadas. Todas as melhorias nas condições trabalhistas de operários e camponeses, ao longo da história do capitalismo, não foram benesses concedidas por liberalidade dos empregadores, mas o resultado de intensas lutas históricas. O desmonte deste arcabouço protetivo advém da desmobilização do proletariado, que por ora capitulou ante o neoliberalismo.


O oportunismo das elites econômicas em aproveitar a passividade temporária da classe trabalhadora para implodir o pouco que resta do Estado de bem-estar social é um indicativo de seu descompromisso com a elevação dos patamares civilizatórios. Isto só reforça a dimensão retrógrada do capital, autêntica força cega que não tem outro desígnio senão o de sua própria valorização indefinida. Este desiderato é de impossível consecução, pois colide com limites ambientais, sociais e econômicos intransponíveis. Cabe aos deserdados do neoliberalismo, portanto, redobrar a pressão social para a derrocada do sistema, e a discussão sobre o fim da escala 6X1 dá uma excelente contribuição nesse sentido.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

As Big Techs e suas Plataformas Digitais como: Meta(Facebook, Instagram, WhatsApp), Google(YouTube, Chrome), Fatura dezenas de bilhões com anúncios fraudulentos e golpistas, principalmente com comércio eletrônico e investimentos, produtos proibidos, casinos online etc. É o que constatou estudo.

 Meta lucra com golpes que atingem famílias de baixa renda, aponta pesquisa

Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Jones Oliveira | 06/11/2025 às 13:15

Um estudo divulgado pelo Projeto Brief nesta quinta-feira (6) mostrou como o ecossistema da Meta, que inclui Facebook, Instagram e WhatsApp, é responsável por veicular anúncios de golpe a milhões de pessoas, afetando principalmente famílias de baixa renda e com pouco conhecimento digital. Os alvos dos golpistas são, especialmente, beneficiários de programas sociais como Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC).

A pesquisa faz parte da iniciativa Quem Paga a Banda, que investiga financiamento de campanhas, narrativas e redes de influência na internet, focando, neste caso, no impacto social e político dos golpes digitais.

Foram analisados 16 mil anúncios ativos na biblioteca da Meta em setembro deste ano: 52% tinham indícios de golpe e 9% foram confirmados como fraudulentos.

Golpes na Meta e suas vítimas

De acordo com o Projeto Brief, a maioria dos anúncios golpistas foca em oferecer empréstimos e créditos consignados, mirando em trabalhadores CLT, beneficiários de programas sociais e aposentados do INSS. O problema é que as plataformas não apenas toleram os anúncios falsos, como também lucram com eles: a estrutura da Meta garante que o clique gere receita, mesmo quando leva a golpes.

Uma pesquisa da Febraban/Datafolha de 2024 estimou que 56 milhões de brasileiros (33,4% da população adulta) foram vítimas de fraude digital, sofrendo prejuízos de mais de R$ 40 bilhões. A maioria dos golpes usa deepfakes e páginas falsas com informações incompletas ou inexistentes, se aproveitando da identidade visual e logo de grandes bancos digitais.

Com poucos seguidores e endereços de destino não verificados, nota-se a facilidade com a qual o conteúdo fraudulento é divulgado nas plataformas, com pouca moderação ou controle. Mesmo com denúncias de usuários, milhares de anúncios suspeitos continuam ativos, o que o Projeto Brief descreve como a plataforma sendo parte do problema ao invés de buscar uma solução.

Nos anúncios, são usadas narrativas emocionais e promessas de crédito facilitado, com mensagens como “empréstimo com garantia de veículo”, “parcelas em até 36x” e afins, apelando ao desespero de quem precisa pagar as contas. Ao clicar no golpe, o usuário geralmente é encaminhado para conversas no WhatsApp, onde a fraude é concretizada.

O relatório termina com um chamado à regulamentação de anúncios e das plataformas no geral: na União Europeia, há o exemplo do Digital Services Act (DSA, ou Ato de Serviços Digitais, em tradução livre), que impõe deveres e responsabilidades aos provedores de serviços digitais, especialmente quando há uso de IA.

No Brasil, a existência da LGPD, aparentemente, não está sendo o suficiente para conter iniciativas fraudulentas e seus ecossistemas.


Documentos mostram que Meta ganha bilhões com enxurrada de anúncios fraudulentos; entenda

Em média, segundo um documento de dezembro de 2024, a Meta mostra aos usuários de suas plataformas cerca de 15 bilhões de anúncios fraudulentos todos os dias

A Meta projetou no final do ano passado que ganhará cerca de 10% de sua receita anual total – ou US$ 16 bilhões – com a veiculação de anúncios de golpes e produtos proibidos, segundo documentos internos da empresa.

Um conjunto de documentos analisados pela Reuters também mostra que a gigante das mídias sociais não conseguiu, por pelo menos três anos, identificar e interromper uma avalanche de anúncios que expôs os bilhões de usuários do Facebook, Instagram e WhatsApp a esquemas fraudulentos de comércio eletrônico e investimento, cassinos online ilegais e a venda de produtos médicos proibidos.

Em média, segundo um documento de dezembro de 2024, a empresa mostra aos usuários de suas plataformas cerca de 15 bilhões de anúncios fraudulentos de “maior risco” – aqueles que mostram sinais claros de serem fraudulentos – todos os dias. A Meta obtém cerca de US$ 7 bilhões em receita anual com essa categoria de anúncios fraudulentos a cada ano, afirma outro documento do final de 2024.

Grande parte das fraudes foi gerada por profissionais de marketing que agiram de forma suspeita o suficiente para serem detectados pelos sistemas de alerta internos da Meta. Mas a empresa só proíbe anunciantes se seus sistemas automatizados preveem que os profissionais de marketing têm pelo menos 95% de certeza de que estão cometendo fraude, mostram os documentos. Se a empresa tiver menos certeza – mas ainda acreditar que o anunciante é um provável fraudador – a Meta cobra taxas de anúncios mais altas como penalidade, de acordo com os documentos. A ideia é dissuadir os anunciantes suspeitos de exibirem anúncios nas plataformas da empresa.


Um conjunto de documentos analisados pela Reuters também mostra que a gigante das mídias sociais não conseguiu, por pelo menos três anos, identificar e interromper uma avalanche de anúncios que expôs os bilhões de usuários do Facebook, Instagram e WhatsApp a esquemas fraudulentos de comércio eletrônico e investimento, cassinos online ilegais e a venda de produtos médicos proibidos.

Em média, segundo um documento de dezembro de 2024, a empresa mostra aos usuários de suas plataformas cerca de 15 bilhões de anúncios fraudulentos de “maior risco” – aqueles que mostram sinais claros de serem fraudulentos – todos os dias. A Meta obtém cerca de US$ 7 bilhões em receita anual com essa categoria de anúncios fraudulentos a cada ano, afirma outro documento do final de 2024.

Grande parte das fraudes foi gerada por profissionais de marketing que agiram de forma suspeita o suficiente para serem detectados pelos sistemas de alerta internos da Meta. Mas a empresa só proíbe anunciantes se seus sistemas automatizados preveem que os profissionais de marketing têm pelo menos 95% de certeza de que estão cometendo fraude, mostram os documentos. Se a empresa tiver menos certeza – mas ainda acreditar que o anunciante é um provável fraudador – a Meta cobra taxas de anúncios mais altas como penalidade, de acordo com os documentos. A ideia é dissuadir os anunciantes suspeitos de exibirem anúncios nas plataformas da empresa.

Os documentos observam ainda que os usuários que clicam em anúncios fraudulentos provavelmente verão mais deles por causa do sistema de personalização de anúncios da Meta, que tenta exibir anúncios com base no que acha que são os interesses do usuário.

Os detalhes da autoavaliação confidencial da Meta foram extraídos de documentos criados entre 2021 e este ano nas divisões de finanças, lobby, engenharia e segurança. Juntos, eles refletem os esforços da companhia de Mark Zuckerberg para quantificar a escala de abuso em suas plataformas – e a hesitação da empresa em reprimir esses abusos sob risco de prejudicar seus interesses comerciais.

A aceitação pela Meta da receita de fontes suspeitas de estarem cometendo fraudes destaca a falta de supervisão regulatória do setor de publicidade, disse Sandeep Abraham, um examinador de fraudes e ex-investigador de segurança da Meta que agora dirige uma consultoria chamada Risky Business Solutions.

“Se os órgãos reguladores não toleram que os bancos lucrem com fraudes, eles não deveriam tolerar isso no setor de tecnologia”, disse ele à Reuters.

 
O porta-voz da Meta, Andy Stone, disse em comunicado que os documentos vistos pela Reuters “apresentam uma visão seletiva que distorce a abordagem da Meta em relação a fraudes e golpes”. A estimativa interna da empresa de que obteria 10,1% de sua receita em 2024 com fraudes e outros anúncios proibidos foi “grosseira e excessivamente inclusiva”, disse Stone. Mais tarde, a empresa determinou que o número real era menor, porque a estimativa incluía “muitos” anúncios legítimos também, disse ele. Stone se recusou a fornecer um número atualizado.

“A avaliação foi feita para validar nossos investimentos planejados em integridade, inclusive no combate a fraudes e golpes, o que fizemos”, disse Stone. Ele acrescentou: “Combatemos agressivamente as fraudes e os golpes porque as pessoas em nossas plataformas não querem esse conteúdo, os anunciantes legítimos não o querem e nós também não o queremos.”

“Nos últimos 18 meses, reduzimos em 58% as denúncias de usuários sobre anúncios fraudulentos em todo o mundo e, até agora, em 2025, removemos mais de 134 milhões de peças de conteúdo de anúncios fraudulentos”, disse Stone.

Temos grandes metas
Alguns dos documentos mostram a Meta prometendo fazer mais. “Temos grandes metas para reduzir os golpes de anúncios em 2025”, afirma um documento de 2024, em que a empresa diz esperar reduzir esses anúncios em determinados mercados em até 50%. Em outros lugares, os documentos mostram gerentes parabenizando funcionários por esforços bem-sucedidos de redução de fraudes.

Ao mesmo tempo, os documentos indicam que a própria pesquisa da Meta sugere que seus produtos se tornaram um pilar da economia global de fraudes. Uma apresentação feita em maio de 2025 por sua equipe de segurança estimou que as plataformas da empresa estavam envolvidas em um terço de todos os golpes bem-sucedidos nos EUA. A Meta também reconheceu em outros documentos internos que alguns de seus principais concorrentes estavam fazendo um trabalho melhor na eliminação de fraudes em suas plataformas.

“É mais fácil anunciar fraudes nas plataformas da Meta do que no Google”, concluiu uma análise interna da Meta em abril de 2025 sobre as comunidades online onde os fraudadores discutem seus negócios. O documento não expõe as razões por trás dessa conclusão.

Órgãos reguladores de todo o mundo estão pressionando a Meta a fazer mais para proteger seus usuários contra fraudes online. Nos EUA, a SEC investiga a empresa por veicular anúncios de fraudes financeiras, de acordo com os documentos internos. Na Reino Unido, um órgão regulador disse no ano passado que descobriu que os produtos da Meta estavam envolvidos em 54% de todas as perdas com fraudes relacionadas a pagamentos em 2023, mais do que o dobro de todas as outras plataformas sociais combinadas.

A SEC e o órgão regulador do Reino Unido não comentaram o assunto ao serem procuradas pela Reuters. Stone, porta-voz da Meta, indicou à Reuters as últimas divulgações da empresa na SEC, que afirmam que os esforços da empresa para lidar com a publicidade ilícita “afetam negativamente nossa receita, e esperamos que o aprimoramento contínuo de tais esforços tenha um impacto em nossa receita no futuro, que pode ser material”.

A Meta está despejando dinheiro em inteligência artificial e planeja até US$ 72 bilhões este ano em despesas gerais de capital. Embora reconheça que os investimentos são “uma enorme quantidade de capital”, Zuckerberg procurou assegurar aos investidores que o negócio de publicidade da Meta pode financiá-los.

“Temos o capital do nosso negócio para fazer isso”, disse ele em julho, ao anunciar que, para dar suporte à IA, a Meta estava construindo um data center em Ohio que terá o tamanho do Central Park de Nova York.

Nos documentos internos, a Meta pondera os custos de reforçar sua vigilância contra anúncios fraudulentos em relação ao custo das penalidades financeiras dos governos por não proteger seus usuários.


Documentos mostram que Meta ganha bilhões com enxurrada de anúncios fraudulentos; entenda
Em média, segundo um documento de dezembro de 2024, a Meta mostra aos usuários de suas plataformas cerca de 15 bilhões de anúncios fraudulentos todos os dias
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Meta
Presidente da Meta, Mark Zuckerberg, em evento nos EUA (Crédito: REUTERS/Carlos Barria)


A Meta projetou no final do ano passado que ganhará cerca de 10% de sua receita anual total – ou US$ 16 bilhões – com a veiculação de anúncios de golpes e produtos proibidos, segundo documentos internos da empresa.

Um conjunto de documentos analisados pela Reuters também mostra que a gigante das mídias sociais não conseguiu, por pelo menos três anos, identificar e interromper uma avalanche de anúncios que expôs os bilhões de usuários do Facebook, Instagram e WhatsApp a esquemas fraudulentos de comércio eletrônico e investimento, cassinos online ilegais e a venda de produtos médicos proibidos.

Em média, segundo um documento de dezembro de 2024, a empresa mostra aos usuários de suas plataformas cerca de 15 bilhões de anúncios fraudulentos de “maior risco” – aqueles que mostram sinais claros de serem fraudulentos – todos os dias. A Meta obtém cerca de US$ 7 bilhões em receita anual com essa categoria de anúncios fraudulentos a cada ano, afirma outro documento do final de 2024.

Grande parte das fraudes foi gerada por profissionais de marketing que agiram de forma suspeita o suficiente para serem detectados pelos sistemas de alerta internos da Meta. Mas a empresa só proíbe anunciantes se seus sistemas automatizados preveem que os profissionais de marketing têm pelo menos 95% de certeza de que estão cometendo fraude, mostram os documentos. Se a empresa tiver menos certeza – mas ainda acreditar que o anunciante é um provável fraudador – a Meta cobra taxas de anúncios mais altas como penalidade, de acordo com os documentos. A ideia é dissuadir os anunciantes suspeitos de exibirem anúncios nas plataformas da empresa.

Os documentos observam ainda que os usuários que clicam em anúncios fraudulentos provavelmente verão mais deles por causa do sistema de personalização de anúncios da Meta, que tenta exibir anúncios com base no que acha que são os interesses do usuário.

Os detalhes da autoavaliação confidencial da Meta foram extraídos de documentos criados entre 2021 e este ano nas divisões de finanças, lobby, engenharia e segurança. Juntos, eles refletem os esforços da companhia de Mark Zuckerberg para quantificar a escala de abuso em suas plataformas – e a hesitação da empresa em reprimir esses abusos sob risco de prejudicar seus interesses comerciais.

A aceitação pela Meta da receita de fontes suspeitas de estarem cometendo fraudes destaca a falta de supervisão regulatória do setor de publicidade, disse Sandeep Abraham, um examinador de fraudes e ex-investigador de segurança da Meta que agora dirige uma consultoria chamada Risky Business Solutions.

“Se os órgãos reguladores não toleram que os bancos lucrem com fraudes, eles não deveriam tolerar isso no setor de tecnologia”, disse ele à Reuters.


O porta-voz da Meta, Andy Stone, disse em comunicado que os documentos vistos pela Reuters “apresentam uma visão seletiva que distorce a abordagem da Meta em relação a fraudes e golpes”. A estimativa interna da empresa de que obteria 10,1% de sua receita em 2024 com fraudes e outros anúncios proibidos foi “grosseira e excessivamente inclusiva”, disse Stone. Mais tarde, a empresa determinou que o número real era menor, porque a estimativa incluía “muitos” anúncios legítimos também, disse ele. Stone se recusou a fornecer um número atualizado.

“A avaliação foi feita para validar nossos investimentos planejados em integridade, inclusive no combate a fraudes e golpes, o que fizemos”, disse Stone. Ele acrescentou: “Combatemos agressivamente as fraudes e os golpes porque as pessoas em nossas plataformas não querem esse conteúdo, os anunciantes legítimos não o querem e nós também não o queremos.”

“Nos últimos 18 meses, reduzimos em 58% as denúncias de usuários sobre anúncios fraudulentos em todo o mundo e, até agora, em 2025, removemos mais de 134 milhões de peças de conteúdo de anúncios fraudulentos”, disse Stone.

Temos grandes metas
Alguns dos documentos mostram a Meta prometendo fazer mais. “Temos grandes metas para reduzir os golpes de anúncios em 2025”, afirma um documento de 2024, em que a empresa diz esperar reduzir esses anúncios em determinados mercados em até 50%. Em outros lugares, os documentos mostram gerentes parabenizando funcionários por esforços bem-sucedidos de redução de fraudes.

Ao mesmo tempo, os documentos indicam que a própria pesquisa da Meta sugere que seus produtos se tornaram um pilar da economia global de fraudes. Uma apresentação feita em maio de 2025 por sua equipe de segurança estimou que as plataformas da empresa estavam envolvidas em um terço de todos os golpes bem-sucedidos nos EUA. A Meta também reconheceu em outros documentos internos que alguns de seus principais concorrentes estavam fazendo um trabalho melhor na eliminação de fraudes em suas plataformas.

“É mais fácil anunciar fraudes nas plataformas da Meta do que no Google”, concluiu uma análise interna da Meta em abril de 2025 sobre as comunidades online onde os fraudadores discutem seus negócios. O documento não expõe as razões por trás dessa conclusão.

Órgãos reguladores de todo o mundo estão pressionando a Meta a fazer mais para proteger seus usuários contra fraudes online. Nos EUA, a SEC investiga a empresa por veicular anúncios de fraudes financeiras, de acordo com os documentos internos. Na Reino Unido, um órgão regulador disse no ano passado que descobriu que os produtos da Meta estavam envolvidos em 54% de todas as perdas com fraudes relacionadas a pagamentos em 2023, mais do que o dobro de todas as outras plataformas sociais combinadas.

A SEC e o órgão regulador do Reino Unido não comentaram o assunto ao serem procuradas pela Reuters. Stone, porta-voz da Meta, indicou à Reuters as últimas divulgações da empresa na SEC, que afirmam que os esforços da empresa para lidar com a publicidade ilícita “afetam negativamente nossa receita, e esperamos que o aprimoramento contínuo de tais esforços tenha um impacto em nossa receita no futuro, que pode ser material”.

A Meta está despejando dinheiro em inteligência artificial e planeja até US$ 72 bilhões este ano em despesas gerais de capital. Embora reconheça que os investimentos são “uma enorme quantidade de capital”, Zuckerberg procurou assegurar aos investidores que o negócio de publicidade da Meta pode financiá-los.

“Temos o capital do nosso negócio para fazer isso”, disse ele em julho, ao anunciar que, para dar suporte à IA, a Meta estava construindo um data center em Ohio que terá o tamanho do Central Park de Nova York.

Nos documentos internos, a Meta pondera os custos de reforçar sua vigilância contra anúncios fraudulentos em relação ao custo das penalidades financeiras dos governos por não proteger seus usuários.

Penalidades de até US$ 1 bilhão
Os documentos deixam claro que a Meta pretende reduzir seu fluxo de receita ilícita no futuro. Mas a empresa está preocupada com o fato de que reduções abruptas de faturamento com publicidade fraudulenta possam afetar suas projeções de negócios, de acordo com um documento de 2025 que discute o impacto da “receita violadora” – dinheiro de anúncios que violam os padrões da Meta, como fraudes, jogos ilegais, serviços sexuais ou produtos de saúde duvidosos.

Os documentos observam que a Meta planeja tentar reduzir a parcela da receita do Facebook e do Instagram derivada de anúncios fraudulentos. Enquanto isso, a Meta reconheceu internamente que as multas regulatórias para anúncios fraudulentos são certas e prevê penalidades de até US$ 1 bilhão, de acordo com um dos documentos obtidos pela Reuters.

Mas essas multas serão muito menores do que o faturamento que a Meta tem com anúncios fraudulentos, afirma um documento separado de novembro de 2024. A cada seis meses, a Meta ganha US$3,5 bilhões apenas com a parte dos anúncios fraudulentos que “apresentam maior risco legal”, diz o documento, como aqueles que afirmam falsamente representar uma marca de consumo ou uma personalidade pública ou que demonstram outros sinais de fraude. Esse valor quase certamente excede “o custo de qualquer acordo regulatório envolvendo anúncios fraudulentos”.

Em vez de concordar voluntariamente em fazer mais para examinar os anunciantes, afirma o mesmo documento, a liderança da empresa decidiu agir apenas em resposta a uma ação regulatória iminente.

Stone contestou as afirmações dos documentos estratégicos de que a Meta só deveria agir se fosse forçada. Essa não é a política da empresa, disse ele.

A Meta também impôs restrições quanto à quantidade de receita que está disposta a perder por agir contra anunciantes suspeitos, dizem os documentos. No primeiro semestre de 2025, segundo um documento de fevereiro, a equipe responsável pela verificação de anunciantes questionáveis não tinha permissão para tomar medidas que pudessem custar à empresa mais de 0,15% da receita total da companhia. Isso equivale a cerca de US$135 milhões dos US$90 bilhões que a Meta faturou primeiro semestre de 2025.

“Vamos ser cautelosos”, escreveu o gerente que supervisiona o esforço, observando que a receita permitida incluía anúncios fraudulentos e “benignos” que foram bloqueados por engano. “Temos barreiras específicas para a receita.”

Stone, o porta-voz da Meta, disse que o valor de 0,15% citado veio de um documento de projeção de receita e não era um limite rígido.

Em meio à intensificação da pressão para fazer mais para combater os golpes em suas próprias plataformas, os executivos da Meta apresentaram a Zuckerberg, em outubro de 2024, um plano para o que eles chamaram de abordagem moderada para a aplicação de golpes. Em vez de uma rápida repressão, a empresa concentraria seus esforços em países onde temia uma ação regulatória de curto prazo, de acordo com um documento que delineava a estratégia.

Após a reunião com o Zuckerberg, os executivos da Meta encarregados de reforçar a integridade das plataformas da empresa decidiram tentar reduzir a porcentagem de receita atribuível a fraudes, jogos ilegais e produtos proibidos de uma estimativa de 10,1% em 2024 para 7,3% até o final de 2025. Até o final de 2026, a Meta pretende reduzir ainda mais esse número para 6% e, em seguida, para 5,8% em 2027, segundo o memorando de estratégia e outros documentos vistos pela Reuters.

Aumento na fraude
Em 2022, segundo um documento daquele ano, a Meta descobriu uma rede de seis dígitos de contas que fingiam ser membros das forças armadas dos Estados Unidos em zonas de guerra. As contas enviavam milhões de mensagens por semana tentando convencer os usuários do Facebook a doarem dinheiro. “Sextorsão” – na qual os golpistas obtêm imagens sexuais de um usuário, geralmente um adolescente, sob falsos pretextos e depois o chantageiam – também estava se tornando comum nas plataformas da Meta. E uma enxurrada de contas falsas que fingiam ser celebridades ou representar grandes marcas de consumo enganavam usuários em todo o mundo.

Mas, apesar do aumento das fraudes online, outro documento de 2022 observa a “falta de investimento” da empresa na detecção automatizada de fraudes naquela época. A Meta classificou os anúncios fraudulentos como um problema de “baixa gravidade”, considerando-os como uma “experiência ruim para o usuário”, diz o documento.

Os documentos vistos pela Reuters mostram que, na época, a Meta orientou os funcionários a se concentrarem principalmente em fraudadores que se disfarçavam de celebridades e usurpavam grandes marcas. Esses “golpes de falsificação de identidade” corriam o risco de incomodar anunciantes e figuras públicas, segundo um documento de 2022, e, portanto, ameaçavam reduzir o envolvimento do usuário e a receita.

Mas as demissões em massa em andamento na Meta estavam dificultando os trabalhos. Um documento de planejamento para o primeiro semestre de 2023 observa que todos os que trabalhavam na equipe que lidava com as preocupações dos anunciantes sobre questões de direitos de marca haviam sido demitidos. A empresa também estava dedicando recursos tão intensamente à realidade virtual e à IA que os membros da equipe de segurança receberam ordens para restringir o uso dos recursos de computação da Meta. Eles foram instruídos apenas a “manter as luzes acesas”.

Stone disse que, embora tenham ocorrido demissões em massa, a empresa expandiu substancialmente o número de funcionários que combatem publicidade fraudulenta nos últimos anos.

A Meta também ignorou a grande maioria das denúncias de golpes feitas por usuários, conforme indica um documento de 2023. Naquele ano, a equipe de segurança estimou que os usuários do Facebook e do Instagram apresentavam semanalmente cerca de 100.000 denúncias válidas de mensagens enviadas por fraudadores, diz o documento visto pela Reuters. Mas a Meta ignorou ou rejeitou incorretamente 96% delas.

A equipe de segurança da Meta resolveu fazer melhor. No futuro, a empresa espera rejeitar não mais que 75% das denúncias válidas de fraude, de acordo com outro documento de 2023.

Erin West, ex-promotora do condado norte-americano de Santa Clara que agora dirige uma organização sem fins lucrativos dedicada ao combate a fraudes, disse que a resposta padrão da Meta aos usuários que sinalizavam fraudes era ignorá-los.

“Não sei se já vi algo ser retirado do ar como resultado de uma única denúncia de usuário”, disse ela.

Em outubro passado, uma recrutadora da Força Aérea Real Canadense acordou e viu que sua conta do Facebook estava bloqueada. A mulher, que falou sob condição de anonimato devido ao seu status militar, havia sido hackeada.

Logo, uma foto de um crachá de emprego falso com o rosto dela apareceu em sua conta, juntamente com o texto: “Estou muito feliz em anunciar que sou certificada em criptomoedas.”

A recrutadora disse que imediatamente registrou várias denúncias na Meta. Com o passar das semanas sem resposta, sua conta começou a alegar que ela havia ficado rica com criptomoedas – até mesmo adquirindo um terreno para a casa dos sonhos – e que queria dar a mesma oportunidade a seus amigos.

A recrutadora disse que seu supervisor tentou pedir ajuda à polícia canadense, mas foi informado de que a Meta não costuma responder a denúncias de contas hackeadas feitas pelas autoridades. Assim, a recrutadora avisou seus amigos para não interagirem com a conta falsa e pediu que eles também a denunciassem para a empresa.

Questionada sobre o incidente, a Real Polícia Montada do Canadá afirmou que levanta regularmente denúncias de abuso em plataformas como as da Meta, mas se recusou a comentar o caso específico.

Mas nada aconteceu. Após cerca de um mês, Mike Lavery, um ex-oficial do exército canadense com quem a recrutadora havia trabalhado anos antes, ligou para ela. Ele havia perdido 40 mil dólares canadenses (cerca de US$28.000) depois de investir no golpe das criptomoedas que mostrava o rosto dela.

“Pensei que estava falando com um amigo de confiança que tinha uma reputação muito boa”, disse Lavery à Reuters sobre a conta do Facebook sequestrada. “Por causa disso, minha guarda estava baixa.”

A recrutadora disse que chorou quando Lavery lhe contou o que havia acontecido. “As pessoas estavam sendo prejudicadas porque confiavam em mim”, disse ela. Ela disse que pediu aos amigos que continuassem a denunciar a conta desonesta.

“Dezenas de pessoas denunciaram, várias vezes cada uma”, disse ela, estimando que a Meta recebeu mais de 100 denúncias. Quando Meta finalmente tirou do ar a conta hackeada, pelo menos quatro outros militares já tinham sido enganados, disse ela.

Brian Mason, um investigador da Polícia de Edmonton, no Canadá, conseguiu ajudar a rastrear 65.000 dólares canadenses dos fundos roubados das vítimas até a Nigéria. Mas a recuperação do dinheiro provavelmente seria difícil ou impossível, disse ele à Reuters, porque “o dinheiro foi convertido em contas bancárias na Nigéria, nas quais não podemos tocar”.

A Meta se recusou a comentar sobre a conta hackeada do recrutador da Força Aérea ou sobre suas vítimas.


Documentos mostram que Meta ganha bilhões com enxurrada de anúncios fraudulentos; entenda
Em média, segundo um documento de dezembro de 2024, a Meta mostra aos usuários de suas plataformas cerca de 15 bilhões de anúncios fraudulentos todos os dias
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Meta
Presidente da Meta, Mark Zuckerberg, em evento nos EUA (Crédito: REUTERS/Carlos Barria)


A Meta projetou no final do ano passado que ganhará cerca de 10% de sua receita anual total – ou US$ 16 bilhões – com a veiculação de anúncios de golpes e produtos proibidos, segundo documentos internos da empresa.

Um conjunto de documentos analisados pela Reuters também mostra que a gigante das mídias sociais não conseguiu, por pelo menos três anos, identificar e interromper uma avalanche de anúncios que expôs os bilhões de usuários do Facebook, Instagram e WhatsApp a esquemas fraudulentos de comércio eletrônico e investimento, cassinos online ilegais e a venda de produtos médicos proibidos.

Em média, segundo um documento de dezembro de 2024, a empresa mostra aos usuários de suas plataformas cerca de 15 bilhões de anúncios fraudulentos de “maior risco” – aqueles que mostram sinais claros de serem fraudulentos – todos os dias. A Meta obtém cerca de US$ 7 bilhões em receita anual com essa categoria de anúncios fraudulentos a cada ano, afirma outro documento do final de 2024.

Grande parte das fraudes foi gerada por profissionais de marketing que agiram de forma suspeita o suficiente para serem detectados pelos sistemas de alerta internos da Meta. Mas a empresa só proíbe anunciantes se seus sistemas automatizados preveem que os profissionais de marketing têm pelo menos 95% de certeza de que estão cometendo fraude, mostram os documentos. Se a empresa tiver menos certeza – mas ainda acreditar que o anunciante é um provável fraudador – a Meta cobra taxas de anúncios mais altas como penalidade, de acordo com os documentos. A ideia é dissuadir os anunciantes suspeitos de exibirem anúncios nas plataformas da empresa.

Os documentos observam ainda que os usuários que clicam em anúncios fraudulentos provavelmente verão mais deles por causa do sistema de personalização de anúncios da Meta, que tenta exibir anúncios com base no que acha que são os interesses do usuário.

Os detalhes da autoavaliação confidencial da Meta foram extraídos de documentos criados entre 2021 e este ano nas divisões de finanças, lobby, engenharia e segurança. Juntos, eles refletem os esforços da companhia de Mark Zuckerberg para quantificar a escala de abuso em suas plataformas – e a hesitação da empresa em reprimir esses abusos sob risco de prejudicar seus interesses comerciais.

A aceitação pela Meta da receita de fontes suspeitas de estarem cometendo fraudes destaca a falta de supervisão regulatória do setor de publicidade, disse Sandeep Abraham, um examinador de fraudes e ex-investigador de segurança da Meta que agora dirige uma consultoria chamada Risky Business Solutions.

“Se os órgãos reguladores não toleram que os bancos lucrem com fraudes, eles não deveriam tolerar isso no setor de tecnologia”, disse ele à Reuters.
 

O porta-voz da Meta, Andy Stone, disse em comunicado que os documentos vistos pela Reuters “apresentam uma visão seletiva que distorce a abordagem da Meta em relação a fraudes e golpes”. A estimativa interna da empresa de que obteria 10,1% de sua receita em 2024 com fraudes e outros anúncios proibidos foi “grosseira e excessivamente inclusiva”, disse Stone. Mais tarde, a empresa determinou que o número real era menor, porque a estimativa incluía “muitos” anúncios legítimos também, disse ele. Stone se recusou a fornecer um número atualizado.

“A avaliação foi feita para validar nossos investimentos planejados em integridade, inclusive no combate a fraudes e golpes, o que fizemos”, disse Stone. Ele acrescentou: “Combatemos agressivamente as fraudes e os golpes porque as pessoas em nossas plataformas não querem esse conteúdo, os anunciantes legítimos não o querem e nós também não o queremos.”

“Nos últimos 18 meses, reduzimos em 58% as denúncias de usuários sobre anúncios fraudulentos em todo o mundo e, até agora, em 2025, removemos mais de 134 milhões de peças de conteúdo de anúncios fraudulentos”, disse Stone.

Temos grandes metas
Alguns dos documentos mostram a Meta prometendo fazer mais. “Temos grandes metas para reduzir os golpes de anúncios em 2025”, afirma um documento de 2024, em que a empresa diz esperar reduzir esses anúncios em determinados mercados em até 50%. Em outros lugares, os documentos mostram gerentes parabenizando funcionários por esforços bem-sucedidos de redução de fraudes.

Ao mesmo tempo, os documentos indicam que a própria pesquisa da Meta sugere que seus produtos se tornaram um pilar da economia global de fraudes. Uma apresentação feita em maio de 2025 por sua equipe de segurança estimou que as plataformas da empresa estavam envolvidas em um terço de todos os golpes bem-sucedidos nos EUA. A Meta também reconheceu em outros documentos internos que alguns de seus principais concorrentes estavam fazendo um trabalho melhor na eliminação de fraudes em suas plataformas.

“É mais fácil anunciar fraudes nas plataformas da Meta do que no Google”, concluiu uma análise interna da Meta em abril de 2025 sobre as comunidades online onde os fraudadores discutem seus negócios. O documento não expõe as razões por trás dessa conclusão.

Órgãos reguladores de todo o mundo estão pressionando a Meta a fazer mais para proteger seus usuários contra fraudes online. Nos EUA, a SEC investiga a empresa por veicular anúncios de fraudes financeiras, de acordo com os documentos internos. Na Reino Unido, um órgão regulador disse no ano passado que descobriu que os produtos da Meta estavam envolvidos em 54% de todas as perdas com fraudes relacionadas a pagamentos em 2023, mais do que o dobro de todas as outras plataformas sociais combinadas.

A SEC e o órgão regulador do Reino Unido não comentaram o assunto ao serem procuradas pela Reuters. Stone, porta-voz da Meta, indicou à Reuters as últimas divulgações da empresa na SEC, que afirmam que os esforços da empresa para lidar com a publicidade ilícita “afetam negativamente nossa receita, e esperamos que o aprimoramento contínuo de tais esforços tenha um impacto em nossa receita no futuro, que pode ser material”.

A Meta está despejando dinheiro em inteligência artificial e planeja até US$ 72 bilhões este ano em despesas gerais de capital. Embora reconheça que os investimentos são “uma enorme quantidade de capital”, Zuckerberg procurou assegurar aos investidores que o negócio de publicidade da Meta pode financiá-los.

“Temos o capital do nosso negócio para fazer isso”, disse ele em julho, ao anunciar que, para dar suporte à IA, a Meta estava construindo um data center em Ohio que terá o tamanho do Central Park de Nova York.

Nos documentos internos, a Meta pondera os custos de reforçar sua vigilância contra anúncios fraudulentos em relação ao custo das penalidades financeiras dos governos por não proteger seus usuários.

Penalidades de até US$ 1 bilhão
Os documentos deixam claro que a Meta pretende reduzir seu fluxo de receita ilícita no futuro. Mas a empresa está preocupada com o fato de que reduções abruptas de faturamento com publicidade fraudulenta possam afetar suas projeções de negócios, de acordo com um documento de 2025 que discute o impacto da “receita violadora” – dinheiro de anúncios que violam os padrões da Meta, como fraudes, jogos ilegais, serviços sexuais ou produtos de saúde duvidosos.

Os documentos observam que a Meta planeja tentar reduzir a parcela da receita do Facebook e do Instagram derivada de anúncios fraudulentos. Enquanto isso, a Meta reconheceu internamente que as multas regulatórias para anúncios fraudulentos são certas e prevê penalidades de até US$ 1 bilhão, de acordo com um dos documentos obtidos pela Reuters.

Mas essas multas serão muito menores do que o faturamento que a Meta tem com anúncios fraudulentos, afirma um documento separado de novembro de 2024. A cada seis meses, a Meta ganha US$3,5 bilhões apenas com a parte dos anúncios fraudulentos que “apresentam maior risco legal”, diz o documento, como aqueles que afirmam falsamente representar uma marca de consumo ou uma personalidade pública ou que demonstram outros sinais de fraude. Esse valor quase certamente excede “o custo de qualquer acordo regulatório envolvendo anúncios fraudulentos”.

Em vez de concordar voluntariamente em fazer mais para examinar os anunciantes, afirma o mesmo documento, a liderança da empresa decidiu agir apenas em resposta a uma ação regulatória iminente.

Stone contestou as afirmações dos documentos estratégicos de que a Meta só deveria agir se fosse forçada. Essa não é a política da empresa, disse ele.

A Meta também impôs restrições quanto à quantidade de receita que está disposta a perder por agir contra anunciantes suspeitos, dizem os documentos. No primeiro semestre de 2025, segundo um documento de fevereiro, a equipe responsável pela verificação de anunciantes questionáveis não tinha permissão para tomar medidas que pudessem custar à empresa mais de 0,15% da receita total da companhia. Isso equivale a cerca de US$135 milhões dos US$90 bilhões que a Meta faturou primeiro semestre de 2025.

“Vamos ser cautelosos”, escreveu o gerente que supervisiona o esforço, observando que a receita permitida incluía anúncios fraudulentos e “benignos” que foram bloqueados por engano. “Temos barreiras específicas para a receita.”

Stone, o porta-voz da Meta, disse que o valor de 0,15% citado veio de um documento de projeção de receita e não era um limite rígido.

Em meio à intensificação da pressão para fazer mais para combater os golpes em suas próprias plataformas, os executivos da Meta apresentaram a Zuckerberg, em outubro de 2024, um plano para o que eles chamaram de abordagem moderada para a aplicação de golpes. Em vez de uma rápida repressão, a empresa concentraria seus esforços em países onde temia uma ação regulatória de curto prazo, de acordo com um documento que delineava a estratégia.

Após a reunião com o Zuckerberg, os executivos da Meta encarregados de reforçar a integridade das plataformas da empresa decidiram tentar reduzir a porcentagem de receita atribuível a fraudes, jogos ilegais e produtos proibidos de uma estimativa de 10,1% em 2024 para 7,3% até o final de 2025. Até o final de 2026, a Meta pretende reduzir ainda mais esse número para 6% e, em seguida, para 5,8% em 2027, segundo o memorando de estratégia e outros documentos vistos pela Reuters.

Aumento na fraude
Em 2022, segundo um documento daquele ano, a Meta descobriu uma rede de seis dígitos de contas que fingiam ser membros das forças armadas dos Estados Unidos em zonas de guerra. As contas enviavam milhões de mensagens por semana tentando convencer os usuários do Facebook a doarem dinheiro. “Sextorsão” – na qual os golpistas obtêm imagens sexuais de um usuário, geralmente um adolescente, sob falsos pretextos e depois o chantageiam – também estava se tornando comum nas plataformas da Meta. E uma enxurrada de contas falsas que fingiam ser celebridades ou representar grandes marcas de consumo enganavam usuários em todo o mundo.

Mas, apesar do aumento das fraudes online, outro documento de 2022 observa a “falta de investimento” da empresa na detecção automatizada de fraudes naquela época. A Meta classificou os anúncios fraudulentos como um problema de “baixa gravidade”, considerando-os como uma “experiência ruim para o usuário”, diz o documento.

Os documentos vistos pela Reuters mostram que, na época, a Meta orientou os funcionários a se concentrarem principalmente em fraudadores que se disfarçavam de celebridades e usurpavam grandes marcas. Esses “golpes de falsificação de identidade” corriam o risco de incomodar anunciantes e figuras públicas, segundo um documento de 2022, e, portanto, ameaçavam reduzir o envolvimento do usuário e a receita.

Mas as demissões em massa em andamento na Meta estavam dificultando os trabalhos. Um documento de planejamento para o primeiro semestre de 2023 observa que todos os que trabalhavam na equipe que lidava com as preocupações dos anunciantes sobre questões de direitos de marca haviam sido demitidos. A empresa também estava dedicando recursos tão intensamente à realidade virtual e à IA que os membros da equipe de segurança receberam ordens para restringir o uso dos recursos de computação da Meta. Eles foram instruídos apenas a “manter as luzes acesas”.

Stone disse que, embora tenham ocorrido demissões em massa, a empresa expandiu substancialmente o número de funcionários que combatem publicidade fraudulenta nos últimos anos.

A Meta também ignorou a grande maioria das denúncias de golpes feitas por usuários, conforme indica um documento de 2023. Naquele ano, a equipe de segurança estimou que os usuários do Facebook e do Instagram apresentavam semanalmente cerca de 100.000 denúncias válidas de mensagens enviadas por fraudadores, diz o documento visto pela Reuters. Mas a Meta ignorou ou rejeitou incorretamente 96% delas.

A equipe de segurança da Meta resolveu fazer melhor. No futuro, a empresa espera rejeitar não mais que 75% das denúncias válidas de fraude, de acordo com outro documento de 2023.

Erin West, ex-promotora do condado norte-americano de Santa Clara que agora dirige uma organização sem fins lucrativos dedicada ao combate a fraudes, disse que a resposta padrão da Meta aos usuários que sinalizavam fraudes era ignorá-los.

“Não sei se já vi algo ser retirado do ar como resultado de uma única denúncia de usuário”, disse ela.

Em outubro passado, uma recrutadora da Força Aérea Real Canadense acordou e viu que sua conta do Facebook estava bloqueada. A mulher, que falou sob condição de anonimato devido ao seu status militar, havia sido hackeada.

Logo, uma foto de um crachá de emprego falso com o rosto dela apareceu em sua conta, juntamente com o texto: “Estou muito feliz em anunciar que sou certificada em criptomoedas.”

A recrutadora disse que imediatamente registrou várias denúncias na Meta. Com o passar das semanas sem resposta, sua conta começou a alegar que ela havia ficado rica com criptomoedas – até mesmo adquirindo um terreno para a casa dos sonhos – e que queria dar a mesma oportunidade a seus amigos.

A recrutadora disse que seu supervisor tentou pedir ajuda à polícia canadense, mas foi informado de que a Meta não costuma responder a denúncias de contas hackeadas feitas pelas autoridades. Assim, a recrutadora avisou seus amigos para não interagirem com a conta falsa e pediu que eles também a denunciassem para a empresa.

Questionada sobre o incidente, a Real Polícia Montada do Canadá afirmou que levanta regularmente denúncias de abuso em plataformas como as da Meta, mas se recusou a comentar o caso específico.

Mas nada aconteceu. Após cerca de um mês, Mike Lavery, um ex-oficial do exército canadense com quem a recrutadora havia trabalhado anos antes, ligou para ela. Ele havia perdido 40 mil dólares canadenses (cerca de US$28.000) depois de investir no golpe das criptomoedas que mostrava o rosto dela.

“Pensei que estava falando com um amigo de confiança que tinha uma reputação muito boa”, disse Lavery à Reuters sobre a conta do Facebook sequestrada. “Por causa disso, minha guarda estava baixa.”

A recrutadora disse que chorou quando Lavery lhe contou o que havia acontecido. “As pessoas estavam sendo prejudicadas porque confiavam em mim”, disse ela. Ela disse que pediu aos amigos que continuassem a denunciar a conta desonesta.

“Dezenas de pessoas denunciaram, várias vezes cada uma”, disse ela, estimando que a Meta recebeu mais de 100 denúncias. Quando Meta finalmente tirou do ar a conta hackeada, pelo menos quatro outros militares já tinham sido enganados, disse ela.

Brian Mason, um investigador da Polícia de Edmonton, no Canadá, conseguiu ajudar a rastrear 65.000 dólares canadenses dos fundos roubados das vítimas até a Nigéria. Mas a recuperação do dinheiro provavelmente seria difícil ou impossível, disse ele à Reuters, porque “o dinheiro foi convertido em contas bancárias na Nigéria, nas quais não podemos tocar”.

A Meta se recusou a comentar sobre a conta hackeada do recrutador da Força Aérea ou sobre suas vítimas.

Como a Meta fiscaliza fraudes
Internamente, a Meta se refere a fraudes como essa como “orgânicas”, o que significa que elas não envolvem anúncios pagos em suas plataformas. Os golpes orgânicos incluem anúncios classificados fraudulentos colocados gratuitamente no Facebook Marketplace, perfis de namoro falsos e charlatões que promovem curas falsas em grupos de tratamento de câncer.

De acordo com uma apresentação de dezembro de 2024, a base de usuários do Meta está exposta a 22 bilhões de tentativas de golpes orgânicos todos os dias. Isso se soma aos 15 bilhões de anúncios fraudulentos apresentados aos usuários diariamente.

Alguns dos documentos indicam que a Meta fiscaliza a fraude de uma forma que não consegue capturar grande parte da atividade ilegal em suas plataformas.

Depois que a polícia de Cingapura forneceu à empresa uma lista de 146 exemplos de golpes direcionados aos usuários daquele país no último outono, a equipe da Meta descobriu que apenas 23% realmente violavam as políticas da plataforma. Os outros 77% “violam o espírito da política, mas não a letra”, diz uma apresentação da Meta sobre os relatórios policiais.

O marketing enganoso sinalizado pela polícia de Cingapura, sobre o qual a Meta não agiu, incluiu ofertas “boas demais para serem verdadeiras” de 80% de desconto em uma marca de grife, promoções de ingressos falsos para shows e anúncios de emprego publicados por entidades que falsamente alegam ser grandes empresas de tecnologia.

Outros funcionários de segurança da Meta também documentaram casos em que as regras da empresa sobre fraudes não pareciam cobrir comportamentos obviamente ruins. Em abril, a equipe observou que havia descoberto US$250 mil em anúncios de criptomoedas fraudulentos de uma conta que dizia pertencer ao primeiro-ministro do Canadá.

“As políticas atuais não sinalizariam essa conta!”, diz um documento interno visto pela Reuters. Stone, o porta-voz da Meta, disse que os anúncios foram removidos por outros motivos. O gabinete do primeiro-ministro canadense não respondeu a um pedido de comentário.

Maiores golpistas e lances de penalidade
Mesmo quando os anunciantes ilegais são pegos em flagrante, as regras da Meta podem ser brandas, segundo os documentos. Um pequeno anunciante teria que ser sinalizado por promover fraude financeira pelo menos oito vezes antes que o Meta o bloqueie, afirma um documento de 2024 visto pela Reuters. Alguns anunciantes que investem altas somas – conhecidos pela empresa como “contas de alto valor” – poderiam acumular mais de 500 advertências sem que o Meta fechasse suas contas, dizem outros documentos.

Campanhas publicitárias fraudulentas podem atingir grandes proporções: Quatro campanhas removidas pela Meta no início deste ano foram responsáveis por US$67 milhões em receita mensal de publicidade, segundo um documento analisado pela Reuters.

Para chamar a atenção para as falhas percebidas pela empresa, um funcionário da Meta no início deste ano começou a emitir relatórios destacando o “Scammiest Scammer” (Golpista mais fraudulento) de cada semana. O relatório mostrava o perfil do anunciante que havia recebido o maior número de reclamações de usuários sobre golpes na semana anterior.

Os pares elogiaram a iniciativa. Mas o fato de ser citado no relatório nem sempre foi suficiente para que essas contas fossem fechadas. Uma verificação feita pela Reuters de cinco contas citadas em um relatório Scammiest Scammer descobriu que duas ainda estavam ativas mais de seis meses depois, incluindo uma que exibia anúncios de cassinos online não licenciados. 

Reuters
i. 06/11/2025 - 16:32
Reuters
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