Brasil aparece como sexta economia mais endividada da América Latina segundo o FMI com dívida bruta projetada em 92 por cento do PIB acima da média regional de 71 por cento e atrás apenas de Venezuela Dominica Barbados São Vicente Bolívia enquanto dados do BC também mostram alta do endividamento.
O Brasil entrou oficialmente no grupo das economias mais endividadas da América Latina e Caribe, de acordo com projeções atualizadas do Fundo Monetário Internacional. A instituição estima que a dívida bruta do governo geral brasileiro alcance cerca de 92 por cento do PIB em 2025, nível que consolida o país na sexta posição do ranking regional de endividamento.Na prática, isso significa que o Brasil já deve mais do que a média dos vizinhos latino-americanos, estimada em aproximadamente 71 por cento do PIB, e só fica atrás de países que vivem desequilíbrios fiscais bem mais agudos, como Venezuela, Dominica, Barbados, São Vicente e Granadinas e Bolívia. Os números reforçam a percepção de que a trajetória da dívida brasileira segue pressionada, mesmo em um cenário de revisão de gastos e discussão sobre regras fiscais.
Brasil em sexto lugar no ranking da dívida latino-americana
Segundo o levantamento do FMI, o Brasil é a sexta economia mais endividada da América Latina e Caribe quando se compara a dívida bruta ao tamanho do PIB projetado para 2025.
A lista é liderada pela Venezuela, com dívida estimada em 138,46 por cento do PIB, seguida por Dominica, com 97,78 por cento, e Barbados, com 97,73 por cento.
Logo depois aparecem São Vicente e Granadinas, com 93,55 por cento, e Bolívia, com 92,40 por cento do PIB. Em seguida vem o Brasil, com 92,04 por cento, ocupando a sexta posição.
Atrás do país aparecem economias como El Salvador, Suriname, Bahamas e Santa Lúcia, todas com níveis de endividamento menores que o brasileiro.
Ao superar com folga a média regional de cerca de 71 por cento, o Brasil se consolida entre as economias mais alavancadas do continente, mesmo não estando em situação de crise aguda como a de alguns vizinhos.
O dado funciona como sinal de alerta para investidores, governo e mercado, já que limita a margem de manobra para políticas públicas e amplia a sensibilidade a choques de juros ou de crescimento econômico.
Como o FMI calcula a dívida do Brasil
O número divulgado pelo FMI para o Brasil segue o padrão do GFSM 2014, o Government Finance Statistics Manual, manual global de estatísticas fiscais. Esse método adota um conceito amplo de dívida bruta do governo geral e procura harmonizar as práticas de medição entre diferentes países.
Na metodologia do Fundo, entram na conta todos os passivos relevantes do governo geral, o que inclui:títulos públicos emitidos pelo Tesouro
empréstimos contraídos pelo setor público
contas a pagar e outras obrigações financeiras.
Ao fazer isso, o FMI reduz o espaço para que diferenças contábeis nacionais distorçam comparações internacionais.
O objetivo é garantir que o número de dívida do Brasil seja comparável ao de outras economias da região, sem que a posição relativa seja influenciada apenas por escolhas metodológicas locais.
Essa padronização é especialmente importante em rankings regionais como o de dívida na América Latina, porque cada governo adota práticas distintas na hora de registrar, classificar ou excluir determinados passivos.
Ao aplicar a mesma régua, o FMI busca capturar o risco real de endividamento do Brasil e de seus vizinhos.
O que dizem os dados do Banco Central sobre a dívida brasileira
Enquanto o FMI projeta a dívida do governo geral em torno de 92 por cento do PIB em 2025, a leitura doméstica do Banco Central mostra a evolução recente da dívida bruta do governo geral (DBGG) do Brasil. Em outubro, a DBGG chegou a 78,6 por cento do PIB, alta de 0,6 ponto percentual em relação a setembro.
O movimento foi puxado principalmente pela apropriação de juros, que adicionou 0,9 ponto percentual à dívida no mês. Na direção oposta, a queda do PIB nominal retirou 0,3 ponto percentual da relação dívida/PIB. Em valores correntes, o estoque da DBGG alcançou cerca de 9,9 trilhões de reais, acumulando alta de 2,1 pontos percentuais ao longo do ano.
Mesmo abaixo do número projetado pelo FMI, os dados do Banco Central indicam que o endividamento do Brasil segue em trajetória de alta, pressionado pelo custo dos juros e pela dificuldade de gerar superávits primários robustos.
Em outras palavras, o país continua gastando mais do que arrecada, e a conta é empurrada para a dívida pública.
Por que os números do Brasil divergem entre FMI e BC
A diferença entre os 92 por cento de dívida projetada pelo FMI e os 78,6 por cento medidos pelo Banco Central em outubro não significa que exista erro em algum dos lados. Ela reflete, principalmente, a diferença de conceito e escopo usados para medir a dívida do Brasil.
O Banco Central calcula a DBGG, que considera União, INSS, estados e municípios e segue a metodologia de estatísticas fiscais adotada nacionalmente. Essa abordagem tem recortes próprios, ajustados à legislação e às práticas contábeis do setor público brasileiro.
Já o FMI utiliza o conceito de general government gross debt, que incorpora um conjunto mais amplo de passivos do Brasil e ajusta as séries para permitir comparação padronizada com outros países.
É justamente por isso que o valor calculado pelo Fundo tende a ser maior que o número do BC, ainda que ambos apontem para a mesma direção: o endividamento brasileiro está elevado e acima da média regional.
Na prática, o que os dois indicadores mostram é convergente. O Brasil é visto como um país com dívida pública alta para padrões de economias emergentes, o que exige atenção constante ao equilíbrio das contas públicas, ao desenho do arcabouço fiscal e à capacidade de o governo gerar superávits primários ao longo do tempo.
O que esse endividamento elevado significa para o futuro do Brasil.
O fato de o Brasil ser a sexta economia mais endividada da América Latina não implica, por si só, uma crise iminente, mas amplia a necessidade de credibilidade fiscal e de previsibilidade nas políticas públicas.
Dívidas muito altas aumentam o custo de financiamento do governo, pressionam juros e podem reduzir o espaço para investimentos em áreas como infraestrutura, saúde e educação.

