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“SOU ANTI!”
segunda-feira, 8 de abril de 2024
Nenhuma nação se torna séria e respeitada muito menos sai da condição de primitivismo moral, ético, cultural, intelectual e étnica-cultural, ou seja, de republiqueta bananeira, usando de autoritarismo, seja de seus governantes, ou com instituições podres, autoritárias, arbitrárias e integradas por déspotas com ambições autocratas e totalitária, qualquer semelhança com o Brasil e seus projetos fracassado de ditadores, não é mera coincidência mas sim fato!
domingo, 7 de abril de 2024
O passado que não passou: ditadura segue presente na segurança pública? - Adílson Paes de Souza
Definitivamente, a ditadura não é coisa do passado. Ela continua presente, forte, causando danos na vida das pessoas e pondo em risco a existência da nossa democracia
Declarações do Presidente da República trazem a público que o golpe de 1964 é coisa do passado e, portanto, não deve ser mais remexido. O importante agora, segundo o presidente, é olhar para frente.
Como não podia deixar de ser, tais falas geraram indignação e consternação. O presidente Lula (PT) foi e é muito criticado. Não pretendo aqui explorar os motivos que levaram o presidente a agir desta maneira. Pretendo demonstrar que, pelo menos na segurança pública, a ditadura continua presente na nossa sociedade. Farei isto por tópicos:
Em 1967 foi criada a IGPM – Inspetoria Geral das Polícias Militares – órgão subordinado ao comando do Exército que tinha como função coordenar o emprego, exercer o controle e fiscalizar a atuação das polícias em todo o território nacional. A IGPM significou a porta de entrada do regime militar para garantir a atuação das polícias nos moldes da Doutrina de Segurança Nacional. Uma de suas tarefas foi (e ainda é) assegurar a unidade de doutrina no emprego das polícias militares. Hoje em dia tal órgão ainda existe, nos mesmos moldes em que foi criado durante a ditadura. A militarização das polícias é um fenômeno marcante.
Em 02 de outubro de 1969, através da Ordem de Serviço “N”, nº 803, a Superintendência de Polícia do Estado da Guanabara criou o Auto de Resistência, para a elaboração do registro de ocorrências com resultado morte de pessoas pelas forças policiais. Bastava a versão dos agentes públicos envolvidos. O flagrante delito deixou de ser aplicado.
Desde então o “auto de resistência” se alastrou por todas as polícias brasileiras, em alguns estados com denominações diferentes. No estado de São Paulo recebeu o nome de Resistência Seguida de Morte. Em 2003, passou a ser chamado de Morte Decorrente de Intervenção Policial. É importante frisar que a forma de registro permanece a mesma. Basta a versão dos policiais, geralmente, sem testemunhas do fato. Tal qual ocorria na ditadura.
O decreto lei que criou as polícias militares em 1969 continua válido até hoje. Notem que ele menciona, expressamente, o AI5 comoAI-5 referência. O número de mortos pelas forças policiais aumentou consideravelmente desde a publicação deste decreto. A recente lei orgânica das polícias militares exacerbou a militarização e não o revogou.
Desde a ditadura, até os tempos atuais, está presente, nos discursos das autoridades e nas ações das polícias, a lógica do combate e da eliminação do inimigo. Para eles há uma guerra travada e a eliminação dos inimigos é medida hábil a prover a segurança da sociedade. As práticas policiais, desde a atuação dos agentes, passando pelo registro das ocorrências, até o desfecho que assegura, na maioria das vezes, a impunidade, continuam as mesmas desde a ditadura. Há falta de transparência, não há um efetivo controle social sobre os atos da polícia.
"Adilson Paes de Souza é doutor em psicologia escolar e do desenvolvimento humano, pós-doutorando em psicologia social e mestre em direitos humanos pela Universidade de São Paulo (USP), além de autor de Guardião da Cidade: Reflexões sobre casos de violência praticados por policiais militares."
Conto de fardas de hoje: o fim das operações de vingança da polícia em São Paulo - Jéssica Santos do Ponte Jornalismo
Chega a ser uma ironia do destino que as Operações Escudo/Verão chegaram ao seu fim tão perto de quando relembramos os 60 anos do golpe militar, apoiado pelo empresário e a branquitude. Ironia porque é no seio da ditadura que nasceram as polícias militares, grandes herdeiras e perpetradoras do modus operandi dos anos de chumbo.
No artigo “ O passado que não passou: ditadura segue presente na segurança pública? ”, o doutor em psicologia e mestre em direitos humanos Adilson Paes de Souza elenca algumas das raízes sobre as quais se assentam o modo de operação das polícias no Brasil. “Desde a ditadura, até os tempos atuais, está presente, nos discursos das autoridades e nas ações das polícias, a lógica do combate e da eliminação do inimigo. Para eles há uma guerra travada e a eliminação dos inimigos é medida hábil para provar a segurança da sociedade. As práticas policiais, desde a atuação dos agentes, passando pelo registro das ocorrências, até o desfecho que assegura, na maioria das vezes, a impunidade, continuam as mesmas desde a ditadura”.
Diante disso, não é exagero evocar uma célebre exclamação do falecido Leonel Brizola ao chamar as operações de vingança acionadas pelo governo do estado de São Paulo de “filhotes de ditadura”. Para não ficar apenas na voz de especialistas, invoco Débora Silva, líder e cofundadora das Mães de Maio, que reforçou que o que ocorreu na Baixada Santista em nada perde para o que acontecia naqueles anos. Inclusive, ela relembrou durante mais uma edição do Cordão da Mentira, de Raul Soares, navio da Marinha em Santos que serviu como um dos porões de violência do regime. Dona Zilda, das Mães de Osasco, comparou sua dor pela morte de seu filho com a de Zuzu Angel, que perdeu seu filho [Stuart Angel, preso pela ditadura e desaparecido em 1971] pela violência da ditadura.
Nas duas edições das operações de vingança, a Secretaria de Segurança Pública contou com os presos e as apreensões de armas e drogas como se fossem símbolos de eficiência. Afirma que só aconteceram 56 mortes, incluindo a de adolescentes, porque, comprovadamente, houve confronto, mesmo com um bom número de casos onde os tiros desmintam essa teoria. As denúncias de tortura e abordagens truculentas, inclusive de crianças, são tratadas quase como delírio coletivo de comunidades inteiras, cujas vozes são ignoradas e não há que as defenda de forma contundente dentro do aparelho do Estado (não é mesmo, Ministério Público?).
O “tô nem aí” do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para as denúncias levadas à ONU, foi muito sintomático de que já não há o mínimo constrangimento em matar quem quer que seja. Para quê Judiciário quando um policial com uma Glock pode ser o promotor, juiz e o executor da pena? A fala esdrúxula do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmando que nem sabia que foram 56 mortos demonstra que ele não liga para esses corpos, para essas vidas, mesmo que tenha sido ordem dele para soltar a matilha para caçar nas ruas. Essas falas engordam a popularidade e enchem os olhos de quem quer galgar cargas mais altas nas esferas políticas. São aquelas falas que aquecem o eleitor “bandido bom é bandido morto” e mesmo aqueles que podem ser alvos dessa sanha, por vezes, podem cair nessa esparrela da banalização da morte como política de segurança pública.
Ao contrário do que o governo federal deseja para pacificar os milicos, a ditadura não ficou no passado. Ela é onipresente, atuante e segue fazendo vítimas. E não se engane, leitor, com o anúncio do fim da Operação Verão. Ela voltará, talvez com outro nome, mas ela virá para devorar mais vidas em sua gana de sangue fresco da juventude preta e pobre deste país.
Tanto o capitalismo, quanto o falso socialismo, nada mais são se não uma das muitas mediocridades da natureza humana que fica ainda mais medíocre quando é visto em discursos anti ou pró tão hipócrita, quanto retórico e demagógico, o anti-capitalismo, como o da falsa esquerda tupiniquim, e é típico dos indivíduos acéfalos fundamentalistas Lula-petista. Estes imbecis que por ignorância ou burrice crônica, não sabe, ou sabe e tenta enganar os incautos ou ignorantes como eles, com o velho e mofado clichê anti-capitalismo, que não existe mais comunismo desde a queda da União Soviética, o que existe são ditaduras de estado, como a China, Coreia do Norte, Cuba, Vietnã e outras, que por imposição monopoliza tudo. Pergunta esses imbecis pseudos comunistas ou socialistas, se eles gostariam de viver nos países "comunistas" segundo eles, sendo puramente serviçal do estado e sem direito algum vivendo como na França pré revolução, inclusive de emitir seu descontentamento com a falta de liberdade principalmente de expressão. Pergunta estes imbecis se eles aceitariam distribuir tudo que tem para os pobres fruto das injustiças social, principalmente em nações tremendamente injustas socialmente, como por exemplo essa republiqueta bananeira chamada brasil, se eles doaria tudo para viver como um monge. Afinal ser hipócrita e falso-moralista ou demagogo retórico, é fácil!
sábado, 6 de abril de 2024
A cultura autoritária arbitrária e totalitária, nunca morre nessa republiqueta bananeira chamado Brasil.
O autoritarismo, as arbitrariedades e a censura a liberdade de expressão, não é uma exclusividade das décadas das trevas na ditadura militar nessa republiqueta bananeira e esgoto chamado Brasil, essa chaga, esse câncer moral e cultural é tão histórica, quanto endêmica nessa republiqueta bananeira e suas instituições, e desgraçadamente apoiada por ação ou inação e omissão dessa escória de povo que é o brasileiro.
Os tempos da ditadura militar pode ter passado mas seu legado e resquício permanecem nas instituições do estado e principalmente em seus integrantes, desde os poderes executivo legislativo e judiciário aos braços armados do estado opressor nazifascista tupiniquim, os projetos de ditadores e autocratas estão em todas estas instituições no melhor estilo nazifascista independente da ideologia se de extrema direita, direita ou esquerda fake tupiniquim.
Ações autoritárias e arbitrárias, que vão da mais canalha cafajeste e calhorda "carteirada" ou "sabe com quem está falando", das intimidações, violações, ameaças, coação e perseguição, dos braços armados do estado opressor nazifascista, contra pessoas pobres e miseráveis, aos abusos de poder dos criminosos que usam gravata farda coturno insígnia e toga.
Se os "cães de guarda" de farda coturno e insígnia, dos senhores de engenho e das castas dominantes e suas elites privilegiadas podres, a polícia e sua horda de serviçais tão submissos e subservientes, quanto covardes, jamais pode sonhar em chegar a integrar a corte, afinal sua eterna função é de ser "cães de guarda", "lambe-saco" ou "baba-ovos" destes, ou seja, serem os serviçais do sistema dominante e seu braço forte o poder econômico, os integrantes da "côrte" trajados com gravatas ou toga, invariavelmente investidos de um falso poder, se revelam verdadeiros projetos de ditadores e autocratas, que se veja certas figuras integrantes da tal suprema côrte ou STF travestidos de "xerifão" do velho-oeste das revistas em quadrinhos.
60 anos do golpe: ditadura criou a máquina terrorista perfeita
E ela segue e se fortalece à medida em que a sociedade brasileira se recusa a escrutinar os crimes do regime.
O filósofo Giorgio Agamben nos lembra da existência de duas palavras em latim para esse sujeito. A primeira delas é testis: significa, etimologicamente falando, o terceiro elemento de uma disputa. Testis é, ao mesmo tempo, o observador e o juiz de uma contenda. A segunda palavra é superstes e designa aqueles que vivenciaram, que experienciaram um determinado evento, e por isso mesmo podem falar sobre ele. O seu testemunho é a própria matéria da memória.
E se evoco estas definições, o faço na medida em que a testemunha moderna, sua definição, passeia por entre elas, por compreendermos o testemunho tanto nos termos de um juízo, quanto nos termos de um enunciado baseado na experiência.
E peço que mantenham essa dupla definição em mente, pois a utilizaremos em breve.
Por ora, nos limitaremos a uma nova e importante pergunta: por que os militares brasileiros desapareciam com os corpos de suas vítimas durante a Ditadura Militar?
Pergunta complexa, mais do que normalmente se imagina.
O “desaparecimento forçado” – para utilizarmos a categoria jurídica adequada – das vítimas do regime militar seria, com as devidas aspas, “apenas” o aspecto final de uma máquina muito maior de silenciamentos e apagamentos.
Estamos falando de uma máquina que começa na censura imposta pela caserna, a censura formal, promovida por meio de atos como o AI-5 e o famigerado “Decreto Leila Diniz”, mas também a censura informal, aquela promovida pelo medo continuamente propagado pelos próprios militares e seus múltiplos tentáculos na sociedade, como as polícias e os grupos de extermínio.
Existiam verdades que não podiam ser enunciadas. Os que ousaram dizê-las desapareceram nos porões da Ditadura Militar.
Uma desaparição que se iniciava ainda momento da prisão, com táticas criadas pelos próprios militares para impedir que os presos políticos fossem encontrados por seus familiares e amigos. Táticas que iam de trâmites burocráticos kafkianos à utilização de “aparelhos clandestinos”, como a Casa da Morte, em Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Alguns reapareciam, mas apenas seus corpos emergiam dos porões enquanto a causa de sua morte era falseada por meio de atestados de óbito emitidos por médicos alinhados com o regime. Nos documentos, morria-se em tentativas de fuga inverossímeis, em confrontos absurdos e suicídios impossíveis. Foi o que aconteceu com Vladmir Herzog e outros tantos.
Mas alguns desapareciam por completo, seus corpos, inclusive, negando eternamente aos seus familiares e amigos o direito de enterrá-los. Uma violência perpétua: Rubens Paiva, Stuart Angel, Dinalva Oliveira Teixeira… Estes são apenas três nomes entre centenas de desaparecidos.
O ciclo se fecha numa máquina terrorista que se retroalimenta. A desaparição se fortalece na censura e esta, por sua vez, se alimenta dos rumores de violência do regime. A máquina terrorista perfeita, capaz de cometer as maiores atrocidades, os maiores crimes, e ainda assim permanecer incólume.
Entre estes crimes, inclusive, o genocídio.
Você sabia que em 1968 o Exército Brasileiro ordenou e coordenou a invasão do território dos indígenas Waimiri-Atroari, apenas para garantir a construção de uma estrada? Você sabia que na ocasião as forças armadas utilizaram metralhadoras, dinamites, granadas e até bombardeios aéreos para atacar essa população? Você sabia que mais de dois mil Waimiri-Atroari morreram nessa operação?
O tempo e o silêncio de nossas autoridades, do presidente Lula, termina por concluir o projeto dos generais.
Até hoje se sabe pouco, muito pouco sobre esse evento, sobre esse genocídio e também sobre outros casos semelhantes. E acreditem, houveram outros. Perpetrados pelo governo ou por seus aliados.
Você já ouviu falar dos ataques perpetrados contra grupos Nambikwára no vale do Guaporé, no estado de Rondônia, em 1968? Sabia que indígenas dessa etnia chegaram a ser bombardeados com o desfolhante Tordon 155-BR, popularmente conhecido como Agente Laranja? Os ataques foram realizados por civis que invadiram aquelas terras autorizados e financiados pelo próprio governo brasileiro.
E só podemos falar disso pois os Waimiri-Atroari e os Nambikwára resistiram e, a despeito de tudo, sobreviveram. Mas quantos outros povos podem ter sido completamente exterminados pelos planos e avanços da Ditadura Militar?
Afinal, o desaparecimento dessas populações começava antes mesmo dos ataques. Começava já na propaganda oficial e na burocracia do governo que afirmava reiteradamente a inexistência de populações indígenas nos “sertões” que almejavam invadir. O genocídio era, mais uma vez com as aspas devidas, “apenas” a conclusão desse processo de desaparição.
Percebam a existência de um padrão, uma estrutura de desaparecimentos que se estende da cidade ao “sertão”, que vai da propaganda e burocracia à tortura e o assassinato. Nada disso é coincidência ou acidente, é método. Método de um regime político que não suportaria o testemunho de seus crimes.
Por isso desapareciam com suas vítimas, pois corpos são, sabemos, testemunhas. Testemunhas de sua própria existência, mas também, testemunhas das violências que sofreram, das violências que os generais cometeram. Superstes. Seus desaparecimentos ou o apagamento dessas violências por meio de laudos e certidões falsificadas impediam que outros, que terceiros, testemunhassem contra o regime. Testis.
A máquina terrorista perfeita, eu disse. Uma máquina produz apagamentos e se alimenta do silêncio.
Pior, uma máquina que segue funcionando e se fortalecendo à medida em que a sociedade brasileira se recusa, ano após ano, a passar em revista os crimes cometidos pelo regime da caserna. O tempo leva consigo os últimos sobreviventes do regime, aqueles que poderiam testemunhar suas violências, seus crimes. Testemunhar porque as vivenciaram na pele. O tempo e o silêncio de nossas autoridades, do presidente Lula, termina por concluir o projeto dos generais, dificultando que as gerações futuras, sobretudo elas, testemunhem contra a Ditadura Militar.
Nesse processo, sobram aqueles que testemunham a favor dos generais, avançando sobre a memória do país, falseando o passado. Prevalecendo o famigerado “no tempo da ditadura que era bom”.
Orlando Calheiros
3 de Abril de 2024
Um vislumbre da pior distopia. O genocídio é impulsionado pela IA em Gaza.
Imagine um futuro distópico onde todos os cidadãos são fichados e monitorados. O estado militarizado hi-tech controla tudo e todos, pronto para prender ou assassinar quem julgar necessário. As máquinas calculam quantas mortes são aceitáveis. Então: isso está acontecendo.
No Intercept Brasil, publicamos muitas reportagens sobre como tecnologias e equipamentos de vigilância têm sido comprados e utilizados sem muito controle público por polícias e autoridades de investigação. Fazer esse tipo de reportagem é difícil por dois motivos.
O primeiro é que não há transparência; as compras, em geral, são feitas em sigilo e sem licitação. O segundo é que, em uma sociedade punitivista e calcada em valores de bandido bom é bandido morto, é difícil mostrar às pessoas porque esse tipo de investimento em tecnologia pode ser usado para violar seus próprios direitos.
Mas uma reportagem bombástica publicada nesta semana sobre como ferramentas de inteligência artificial são usadas para massacrar palestinos em Gaza nos ajuda a estressar as possibilidades e a entender o tamanho desse estrago.
Israel é um pólo de desenvolvimento de tecnologias de defesa, e vende muito para vários países do mundo. O First Mile, que rastreia a localização de alvos, foi usado no escândalo de espionagem da Abin.
Além disso, o Cellebrite, que extrai dados de aparelhos, e o Pegasus, que invade dispositivos, são exemplos de tecnologias israelenses de espionagem e vigilância. São exportadas para vários países que fetichizam esse tipo de sociedade (não por acaso, as vendas de muitos deles por aqui explodiram sob Bolsonaro).
Desde 7 de outubro, sabe-se que Israel tem utilizado inteligência artificial na ofensiva em Gaza. São ferramentas desenvolvidas pelo próprio exército israelense e empresas dirigidas por ex-soldados que, com base nos dados coletados em anos de espionagem, orientam os militares a definirem alvos de acordo com a possibilidade de eles serem do Hamas. Por alvos, entenda-se seres humanos ou prédios (onde estão seres humanos).
Nesta semana, a reportagem chocante do +972 Magazine, que tem jornalistas palestinos e israelenses, revelou detalhes de como funciona esse sistema, com declarações enojantes de militares.
Israel usa a expertise de monitoramento em massa, reconhecimento facial e vigilância para juntar um enorme volume de dados sobre os palestinos e, com ajuda de algoritmos, usa esses padrões para tentar definir os alvos em potencial.
“Os humanos muitas vezes serviam apenas como um ‘carimbo’ para as decisões da máquina”, conta uma fonte citada na reportagem.
O Intercept não vai desviar o olhar enquanto Israel comete genocídio em Gaza, apoiada pelos EUA, pela grande mídia e pela extrema direita. Precisamos de seu apoio.
É como o uso de inteligência artificial que usa informações coletadas para entender quem tem menos chance de quitar uma dívida, ou corresponde aos critérios para conseguir um emprego. Só que, neste caso, os sistemas decidem quem vai morrer bombardeado.
Segundo o jornal britânico The Guardian, 37 mil alvos foram identificados em Gaza pelas supermáquinas de Israel por um sistema batizado candidamente de Lavender (lavanda).
Os oficiais ouvidos pela reportagem afirmam confiar mais nas máquinas do que em um soldado sob emoção. "A máquina fez aquilo friamente, e tornou muito mais fácil", declarou um deles. "Economizou muito tempo".
Segundo os militares ouvidos, o exército israelense tinha, para alguns tipos de alvos, uma pré-autorização: 15 ou 20 civis podiam morrer por cada militante de baixa patente do Hamas atingido. Já um comandante valeria mais de cem inocentes.
Esses ataques aos militantes mais desimportantes eram feitos com bombas "bobas", não guiadas, mais baratas e que geram mais mortes colaterais, destruindo casas inteiras e seus ocupantes. "Você não quer gastar bombas caras em pessoas desimportantes", disse um dos militares ouvidos.
Os ataques não aconteciam apenas quando os supostos terroristas estavam em atividade – mas também em suas casas. "É muito mais fácil bombardear uma casa de família. O sistema é feito para procurá-los nestas situações", disse um dos oficiais ao Guardian. Segundo as fontes, havia pressão dos superiores para bombardear mais e mais.
Assim que um alvo era atingido, havia uma fila de 36 mil outros esperando – graças ao sistema de inteligência artificial, que mapeou supostos inimigos automaticamente em escala industrial. Especialistas em conflitos ouvidos pelo Guardian dizem que a técnica pode explicar o absurdo número de civis mortos em Gaza, que já chega a 33 mil.
O exército israelense, o IDF, na sigla em inglês, diz que as operações aconteceram de acordo com os princípios de proporcionalidade e respeitam as leis internacionais.
Segundo o IDF, o Lavender é uma base de dados que cruza diferentes fontes de inteligência para criar camadas de informações atualizadas sobre a operação de organizações terroristas. "São meramente ferramentas para analistas no processo de identificação de alvos".
Sabe-se que o Lavender criava uma base de dados de indivíduos que julgava ter as características de um militante do Hamas, predominantemente os de menor patente.
As fontes dizem que a precisão é de 90%. O sistema era usado com outro, chamado Gospel, também turbinado por IA, que identificava prédios e edificações. Uma "fábrica de alvos", como definiu o próprio IDF.
Não se sabe exatamente como esses sistemas foram treinados – ou seja, que critérios tinham para identificar um potencial militante terrorista. Já está fartamente documentado que sistemas erram (seja o reconhecimento ou a base de dados que os alimentam) e reproduzem vieses. Não é difícil imaginar como essa máquina de matar palestinos foi treinada.
O IDF garante que há revisão humana – mas os oficiais afirmam que a decisão sobre jogar uma bomba ou não é tomada em poucos segundos após um alvo ser identificado automaticamente.
A reportagem que descreve o sistema é chocante. Ela dá um vislumbre da frieza e de como os senhores da guerra de hoje se fiam na tecnologia, inclusive, para se eximir da própria responsabilidade.
A decisão de cometer o genocídio foi tomada por humanos, mas a escolha de quais vítimas morrerão hoje é feita pelos robôs. O que importa para seus mestres se os robôs cometerem um erro? Eles já decidiram que não há problema em matar crianças de forma arbitrária.
Israel está vários passos à frente em relação ao futuro distópico militarizado e assassino, mas não está tão longe de nós assim. Mapear toda uma sociedade para pinçar os indivíduos potencialmente problemáticos foi o que Israel fez em Gaza, e é o que governos tecnoautoritários têm feito aqui e lá fora.
Se você importar a lógica de massacres da nossa polícia, seja no Jacarezinho ou no Guarujá, mortes são aceitáveis, meros efeitos colaterais de uma guerra justificável.
Olhar para Gaza, hoje, é saber o que pode acontecer em qualquer lugar que adotou esse tipo de tecnologia sem garantir direitos humanos básicos antes. É o estado com uma máquina de matar em larga escala, movida por cálculos.
Talvez olhar para esse futuro horrível ajude a sensibilizar quem ainda acha aceitável ferramentas de policiamento preditivo ou reconhecimento facial utilizadas sem critério.
O Brasil adotar essas novidades é só uma questão de tempo – se a farra da indústria de vigilância seguir como vem acontecendo. Os alvos, por aqui, já podemos imaginar quem serão.
A guerra contra Gaza é o campo de testes para a guerra contra todos nós. No Intercept Brasil, temos o compromisso de revelar os abusos cometidos por Israel, Big Tech e seus aliados no Brasil. Ajude a continuar esse importante trabalho. Torne-se um membro hoje mesmo.
INTERCEPT.COM.BR
Governo dos EUA está frustrado que o TikTok não é uma ameaça
nacional
Temor que China estaria controlando usuários pelo TikTok foi classificado como 'hipotético' pelo órgãos de inteligência dos EUA.