O que acontece quando a luta pelos direitos humanos é rifada por aqueles que historicamente sempre os defenderam? Este questionamento tem rondado nossa mente desde que vimos os nomes de quais parlamentares votaram a favor da derrubada dos vetos do presidente Lula (PT) à lei que proíbe as saídas temporárias . Um nome como o da deputada federal gaúcha Maria do Rosário (PT) figurar nessa lista pode ser lido como um sinal de alerta. Mas não é o único.
Em abril deste ano, o governo federal silenciou a memória das vítimas da ditadura militar ao vetar a programação relacionada aos 60 anos do golpe . Esta foi uma demonstração de amorzinho aos militares, sempre tão assanhados como cães famintos a intervir na nossa quase inexistente democracia. A prioridade de setores da esquerda institucional, ao que parece, é pacificar (pacificar o que? Não sei), custe o que custar.
Em um aceno à bancada da bala, a promulgação da Lei Orgânica das Polícias Militares se fez surda aos pedidos de maior controle civil e maior participação popular , o que foi classificado como “ traição aos movimentos sociais” pelo doutor em psicologia escolar e do desenvolvimento humano , pós-doutorando em psicologia social e mestre em direitos humanos pela Universidade de São Paulo (USP), Adilson Paes de Souza.
Os direitos humanos são para todos, claro. Mas, historicamente, a luta por sua defesa ou, como no caso das saídas temporárias, para manutenção é para quem sempre é negado a própria condição humana. Negros, pobres, mulheres, pessoas encarceradas, pessoas LGBTQIAP+ e diversos grupos marginalizados, ao que parece, são simples de rifar da lista de prioridades de parte de nossa esquerda institucional. Afinal, é preciso manter a governabilidade, é preciso manter o centrão, os militares e os evangélicos pacificados.
Acompanhamos aqui na Ponte a situação das pessoas encarceradas durante as enchentes no Rio Grande do Sul . E estivemos sozinhos nessa seara de visibilizar essas pessoas que são tão humanas quanto você, apesar do que quer que tenham (ou não) feito.
O jornalismo que quer se chamar de ético em defesa dos direitos humanos e se opõe ao autoritarismo e à opressão, como está escrito no código de ética de nossa profissão (art. 6º, inciso I). E, ao longo desses 10 anos, nosso trabalho tem servido exatamente para isso: visibilizar aquilo que é violentamente tornado invisível, tornando-o incômodo para os responsáveis e os conviventes. E o fazemos sem temer risco político ou perda de seguidores e apoiadores.
Jéssica Santos. Editora de Relacionamento de Ponte Jornalismo
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