A violência policial descansa quando vigiada — e mata quando esquecida - Matéria Publicada pelo Portal PONTE JORNALISMO 10/05/2025
Os números da letalidade policial de março demonstram que basta a opinião pública voltar ao seu comodismo bovino para que a política de segurança pública volte à máxima da morte. Os dados oficiais da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), divulgados no fim de abril, revelam que as mortes cometidas por policiais em março deste ano tiveram um aumento de 31% em relação a fevereiro. É o segundo mês consecutivo de alta, depois de um breve período de queda na última virada do ano.
Os casos de violência divulgados ostensivamente pela imprensa no segundo semestre de 2024 já não estão mais na memória pública. É quase como se tudo tivesse sido resolvido, que foi “apenas” um momento de lapso das polícias de São Paulo e não o padrão, como temos acompanhado na Ponte ao esses longos 11 anos de existência.
A morte de Ryan , de 4 anos, do estudante Marco Aurélio , 22, e de Gabriel , 26, foram esquecidos pela sociedade e pela imprensa. O choque pelo vídeo de um PM jogando um homem de uma ponte já passou. Cabe às famílias seguirem na luta para que a memória da violência contra seus entes queridos também não desvaneça na justiça. Como disse na última semana, são as mães, cujas existências celebraremos neste domingo (11/5), que capitanearam movimentos de familiares por justiça, memória e peças.
Como disseram os especialistas ouvidos pelo repórter Paulo Batistella na análise dos dados da SSP-SP, o normal da política do governo Tarcísio é este: a política da morte com cor e CEP. Afinal, todos os mortos eram homens, jovens e, em sua maioria, negros. É uma letalidade com alvo certo, com algumas abordagens na classe média que, geralmente, são destacadas como naturais. Afinal, não é esperado que os moradores de bairros nobres estivessem acostumados com a violência policial no seu dia a dia.
É cômodo acreditar que a violência policial é exceção, quando ela não invade seu bairro, não atinge seu filho, não silencia sua rua. Mas enquanto parte da sociedade fecha os olhos, a máquina da morte segue operando, legitimada pelo silêncio coletivo e pela conivência estatal. A letalidade policial não diminui por vontade política — ela só recua quando está sob holofotes. E, quando as câmeras se desligam, a matança recomeça. O que os dados de março escancaram é que, no Brasil, basta o conforto de alguns para que a morte de muitos seja naturalizada. Até quando você vai fingir que isso não tem nada a ver com você?
Jéssica Santos - Editora de Relacionamento.
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