Chamam de odd.
Estranho.
Radical.
Antidemocrático.
Odd é falar o óbvio em voz alta num país que sobrevive de eufemismo.
Odd é dizer que Alexandre de Moraes concentra poder demais para alguém que não recebeu um único voto - e ainda não passa de um déspota tirano.
Odd é lembrar que o STF virou ator político permanente, não árbitro — e ainda exige reverência como se fosse neutro.
Odd é apontar que censura judicial continua sendo censura, mesmo quando vem embalada em juridiquês progressista.
Odd é dizer que Lula governa com o Centrão enquanto finge surpresa com o Congresso que ele mesmo alimenta.
Odd é lembrar que Arthur Lira não caiu do céu, foi escolhido, sustentado e protegido pelo mesmo sistema que depois posa de refém.
Odd é falar que conciliação com o atraso não é estratégia — é rendição administrada.
Odd é dizer que Bolsonaro ou Lula não foi um acidente, foi produto lógico de décadas de pacto entre elite econômica, militares intocados e mídia conivente.
Odd é lembrar que os militares nunca foram punidos, apenas reciclados em cargos, pensões e silêncio corporativo.
Odd é dizer que quem pede “intervenção” hoje é filho direto da impunidade de ontem.
Odd é falar que Sérgio Moro nunca foi herói — foi projeto.
Projeto de poder, projeto midiático, projeto seletivo.
Odd é dizer que a Lava Jato não morreu por excesso, mas por uso político mal disfarçado.
Odd é apontar que a Globo não defende democracia — defende estabilidade para o mercado.
Odd é lembrar que a mesma mídia que hoje chora instituições aplaudiu impeachment sem crime, ajuste fiscal com fome e polícia descendo o cassetete em protesto.
Odd é dizer que o Banco Central “independente” responde mais rápido a Nova York do que ao Nordeste.
Odd é lembrar que Campos Neto nunca foi técnico neutro, mas ideólogo engravatado com selo Faria Lima.
Odd é falar que:
quem invade terra improdutiva é terrorista,
quem invade orçamento é estadista;
quem quebra vidraça vai preso,
quem quebra o país escreve livro e vira palestrante.
Odd é chamar isso de democracia funcional.
No Bostil, esquerda institucional administra o possível, direita institucional administra o atraso, e o povo administra a sobrevivência.
Quem denuncia é chamado de extremista.
Quem aponta nome vira “irresponsável”.
Quem não aceita a farsa é taxado de odd.
Então assumimos o rótulo.
Se ser odd é dizer que:
toga não dá legitimidade eterna,
voto sem poder real é encenação,
conciliação sem ruptura é anestesia,
então somos culpados.
Porque estranho não é gritar.
Estranho é silenciar.
Estranho é normalizar um país onde o autoritarismo se chama estabilidade e a desigualdade se chama governabilidade.
Chamem de odd.
Chamem de radical.
Chamem do que quiserem.
Mas não chamem de mentira.
Porque o que assusta não é o discurso.
É ele fazer sentido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário