Chamam de odd.
Estranho.
Esquisito.
Fora do padrão.
Mas vamos ser honestos: odd não é o que destoa — odd é o que ainda finge normalidade num mundo apodrecido.
É odd quando um político fala em democracia com a mão enfiada no bolso da censura.
É odd quando a mídia vende colapso como estabilidade.
É odd quando o autoritarismo se fantasia de ordem, e a obediência vira virtude cívica.
Chamam isso de estranho porque não sabem mais reconhecer a contradição quando ela grita.
O sistema inteiro é um teatro de absurdos repetidos tantas vezes que viraram paisagem.
O que questiona vira odd.
O que resiste vira radical.
O que pensa vira perigoso.
Odd é quem aponta que o rei está nu.
Odd é quem não bate palma no ritual da mentira institucional.
Odd é quem percebe que algo “não encaixa” — porque nunca encaixou.
A palavra odd não descreve o desvio.
Ela denuncia o deslocamento coletivo da consciência.
Quando tudo é corrupção, chamar a ética de estranha é conveniente.
Quando tudo é vigilância, chamar a liberdade de esquisita é estratégico.
Quando tudo é submissão, chamar a rebeldia de odd é sobrevivência do poder.
Não, o estranho não é o dissenso.
O estranho é a normalização do absurdo.
O estranho é a docilidade diante do controle.
O estranho é ainda pedir permissão para existir.
Se isso é odd, então sejamos.
Se questionar incomoda, incomodemos.
Se não encaixar é crime, sejamos culpados.
Porque num mundo doente, a lucidez sempre parece estranha.
E quem chama isso de odd já escolheu ficar confortável demais para perceber o colapso ao redor.
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