Chamam de odd.
Estranho.
Exagerado.
Radical.
Odd é questionar.
Odd é lembrar.
Odd é não engolir.
Mas vamos parar com a farsa:
odd não é o discurso — odd é o país funcionando à base de mentira institucional e gente fingindo surpresa.
É odd um Supremo que fala em Constituição enquanto legisla por despacho.
É odd um Congresso dominado por Centrão, Bíblia, Bala e Boi posar de representante popular.
É odd um Executivo que promete justiça social enquanto governa com banqueiro, militar e velho coronel reciclado.
É odd chamar isso de democracia.
Odd é o STF decidir o que pode ou não ser dito, enquanto se autoproclama guardião da liberdade.
Odd é político jurando defender o povo com foro privilegiado, auxílio-paletó e medo de CPI.
Odd é jornalista de grande mídia chamando censura de “regulação”, miséria de “ajuste” e repressão de “excesso pontual”.
Odd é o Banco Central “independente” — independente de quem?
Do povo, com certeza.
Mas obediente ao mercado como um cachorro adestrado.
Odd é o Bostil vulgo Brasil onde:
quem rouba bilhões prescreve,
quem protesta apanha,
quem passa fome é estatística,
quem questiona vira ameaça.
Odd é chamar isso de estabilidade institucional.
Quando um presidente fala em democracia, mas governa por acordo com o que há de mais podre no sistema, isso não é pragmatismo — é cinismo.
Quando "ex" criminosos são eleitos pelo voto, com por exemplo um ex-juiz vira ministro, senador, herói midiático e depois meme constrangido, isso não é combate à corrupção — é teatro mal ensaiado.
Quando militar fala em ordem, mas foge de auditoria, isso não é patriotismo — é corporativismo armado.
E ainda querem chamar o incômodo de odd.
Odd é o jovem que não acredita mais.
Odd é o trabalhador que percebe que o jogo é viciado.
Odd é quem entende que esquerda institucional e direita institucional brigam no palco, mas jantam juntas no bastidor.
No Bostil, a normalidade é o absurdo repetido até virar rotina.
Quem aponta o colapso é taxado de extremista.
Quem pede coerência é chamado de ingênuo.
Quem recusa a farsa vira odd.
Então sejamos.
Se ser odd é não aceitar:
STF sem voto, Congresso sem vergonha, governo sem ruptura, mídia sem crítica, então assumimos.
Porque o realmente estranho não é gritar contra isso tudo. O realmente estranho é continuar aplaudindo.
E num país onde o autoritarismo veste toga, o oportunismo veste gravata e a submissão veste bandeira, a lucidez sempre parecerá estranha.
Chamem de odd.
A história chama de consciência.
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